Na Estante: DONA BENTA, a bíblia da culinária


Neste post vamos trazer a MEMÓRIA, um pouco da história de um dos livros de receitas mais importantes do Brasil. Em tempos de "Master Chef" e culinária gourmet é no minimo curioso, conhecer esta "bíblia" da culinária que serviu de guia para várias gerações de cozinheiras(os). O  livro, que desde sua primeira impressão já vendeu mais de 1 milhão de cópias. Atualmente é mais que um livro de receitas é uma obra histórica.


O livro Dona Benta: Comer Bem teve seu lançamento no ano de 1940 pela Companhia Editora Nacional, fruto de uma feliz e duradoura parceria de Octalles Marcondes Ferreira com o ilustre escritor brasileiro Monteiro Lobato, cujo personagem dá nome a obra, a publicação reuniu com maestria e bom gosto variadas receitas de: entradas, pratos principais e sobremesas, além de glossário, dicas de etiqueta, arrumação de mesas e cardápios.

A Dona Benta é uma das mais célebres personagens da literatura infantil brasileira. Seu nome inspirou, além deste livro de receitas, também marcas de farinha e outros produtos. Segundo a obra de Lobato, é uma mulher idosa que possui dois netos, Narizinho e Pedrinho e á ela a dona do famoso Sítio do Pica pau Amarelo. Mulher sábia e culta, sempre ensina muitas coisas aos netos sobre  a cultura do Brasil e do mundo. Viúva de um grande senhor do engenho, hoje mora com sua ajudante, a Tia Nastácia, o prestativo Tio Barnabé e sua neta Narizinho, fora claro os bichos do sítio. Dona Benta frequentemente recebe a visita de Pedrinho, seu neto que mora na cidade grande, sempre que este tira férias da escola. Além dos netos, sua paixão são os livros, de onde tira suas histórias que entretêm as crianças.

O livro em si fora idealizado como uma espécie de manual doméstico que além das dicas culinárias, também trazia noções de etiqueta e sugestões de cardápio familiar. Muitas recém casadas o recebiam como presente de casamento na esperança de que seus ensinos as livrassem de situações vexaminosas com seus maridos. Porém, ao longo dos anos passou por inúmeras modificações. Sendo que, nas primeiras edições a grafia do texto era diferente, era uma linguagem quase que oral, mas  com o passar do tempo foi se modernizando. Em 2003, a abertura das importações pôs na mesa dos brasileiros ingredientes que antes eram raridade ou nem existiam por aqui. Então foram incluídas 200 sugestões de sabor contemporâneo, todas testadas pelas mãos do chef Luiz Cintra. Receitas como: risoto italiano de cogumelos secos e um tiramisu de dar água na boca, além dos clássicos brasileiros e internacionais até aquele momento inéditos nas páginas do livro, sendo eles: arroz de carreteiro, caldinho de feijão, cambuquira, filé ao molho de mostarda e crêpes suzettes. 
Hoje a obra reúne mais de 1.500,00 receitas em 1120 páginas. Haviam ainda receitas exóticas como tartarugas e o passo a passo de como se matar um peru que foram retiradas das edições recentes. 

O interessante é que este livro, em pleno século XXI se mantém firme e forte nas prateleiras das livrarias e nas estantes das casas, provando ser uma obra atemporal. Existem muitos concorrentes hoje em dia, mas o Dona Benta é histórico e fonte certa de sabor e qualidade.

CURIOSIDADES
  • Quando Monteiro Lobato escreveu o Sítio do Picapau Amarelo, entre os anos de 1920 e 1947, as avós da classe média brasileira não iam para a cozinha. Esse era o lugar das empregadas, em sua maioria mulheres negras e pobres, descentes remanescentes da Abolição da Escravatura (Lei Áurea decretada pela Princesa Isabel em 1888).
  • Qualquer um que conhece as histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo sabe que Tia Nastácia é a grande cozinheira da história, não é mesmo? Mas, bem aos moldes da conduta "politicamente correta", temos este famoso livro de culinária que traz, na capa, o nome:Dona Benta. Daí a importância de lembrarmos que nas obras de Lobato, a verdadeira Dona Benta, era uma vovó corajosa, contadora de histórias, uma mulher sábia e conhecedora do mundo. Mas, também, não vamos esquecer da Tia Nastácia, de cara apresentada como a verdadeira cozinheira da história, mas também a fiel escudeira da vovó, uma mulher vigorosa, sincera, amorosa, amiga e outro tanto de adjetivos cuja narrativa da personagem se torna uma ferramenta importante na desconstrução de paradigmas e conceitos ditados pela sociedade, como o preconceito racial e a desvalorização feminina. Além disso tudo, a figura de Tia Nastácia associada a Dona Benta representam a união do conhecimento popular e do erudito, da culinária brasileira e da européia.

BÔNUS: Clique no link e faça do download dos arquivos do livro.

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