PAPO DE CINEMA: Porque o Batman de Michael Keaton é o maior do cinema
Recentemente, voltamos a ter a presença do Batman de Michael Keaton no filme do Flash, em que ele tem grande participação. Tenho algumas coisas a dizer sobre porque o Batman de Keaton foi escolhido para figurar no filme. É simplesmente porque é o maior Batman do cinema. Veja bem, não quis dizer que ele é o melhor Batman do cinema (apesar de que, na minha opinião, ele é o melhor Batman acompanhado do Batman de Christian Bale), mas ele é sem dúvida o maior em termos de impacto cultural. A discussão sobre quem é o melhor Batman do cinema é subjetiva porque envolve gosto pessoal, mas sobre quem é o maior, não, porque aí entram fatos. E a verdade é que, em termos de impacto cultural, o Batman do Keaton é mesmo o que teve mais importância. Tanto que ele foi o responsável pelo surgimento da segunda Batmania (a anterior tinha sido a do Batman de Adam West, na série de TV dos anos 60) e por tudo o que veio depois, incluindo-se a série animada e a preferência popular do herói entre leitores de quadrinhos e o público leigo, que só consome o personagem em outras mídias.
Em questão de bilheteria, o Batman de 1989 arrecadou mais de US$ 400 milhões na época, se tornando a terceira maior bilheteria até então, atrás apenas de E.T. e Guerra nas Estrelas. Foi um recorde para a época. Por sua vez, O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan conseguiu o feito de arrecadar mais de US$ 1 bilhão em bilheteria; porém, devem se levar em conta fatores como a inflação e o preço dos ingressos, além de que o número de espectadores de cinema também cresceu. E, além disso, o mercado chinês ainda não consumia filmes de Hollywood naquela época. Mesmo assim, se se considerar a contagem pelo número de pessoas, e não a arrecadação, se notará que mais gente assistiu ao Batman de 1989 que a O Cavaleiro das Trevas.
Uma acusação que o Batman de 1989 sofre é de não ser fiel aos quadrinhos, mas isso não é totalmente verdade. Tim Burton quis sim fazer um Batman de acordo com sua própria concepção, mas ele teve o auxílio do roteirista Sam Hamm, que era sim um fã de quadrinhos, tendo escrito depois até a HQ Justiça Cega do Cavaleiro das Trevas. E o Batman de Tim Burton e Sam Hamm bebe muito do da Era de Ouro, tanto que a Gotham City do filme é atemporal, ela é tanto retrô quando contemporânea (para a época). A Gotham do filme tem elementos estéticos da década de 40 mesclado com a modernidade dos então anos 80. Esteticamente, a Gotham do filme de 1989 transita entre a arquitetura art decó e a gótica, e essa foi uma tendência que foi incorporada depois não só aos quadrinhos, mas também à série animada nos anos 90. Gotham City antes nos quadrinhos era representada de forma mais sóbria, mais realista, lembrando uma metrópole como Nova York ou Chicago.
Outro elemento do Batman que sofreu mudança foi o Batmóvel. Nos anos 70 e 80, o Batmóvel tinha um design mais sóbrio também, não muito diferente de um carro comum. Porém, após o Batmóvel de 1989, o carro passou a ter um design muito mais inovador e extravagante, tanto nos HQs quanto na série animada e nos outros filmes também. Outro artefato do Batman que sofre mudanças foi a batcorda. Antes, o herói amarrava a batcorda no batrangue para poder escalar os prédios; no filme, Batman usava o revólver-arpão, que foi também incorporado aos quadrinhos e à série animada. O traje do Batman no filme, a armadura toda negra, apesar de um tanto estranha e pesada, também foi adaptada para os quadrinhos nos anos 90. Após A Queda do Morcego, Batman também adotou um uniforme todo negro, que lembrava o do filme.
Uma das críticas que se fazem ao Batman de 1989 é que o herói mata. Entretanto, se formos pegar o Batman da Era de Ouro, vamos verificar que ele não tinha o menor escrúpulo em matar nem em usar armas. E não só o Batman da Era de Ouro; o Batman contemporâneo, principalmente em algumas histórias da década de 80, também já matou ou chegou perto de matar. Ou pelo menos teve essa intenção. Por exemplo, prendeu o KGBesta no esgoto para que ele morresse de fome; tentou matar o Coringa no helicóptero após o vilão assassinar o segundo Robin, Jason Todd, e deixou o helicóptero cair no mar, matando todos os capangas também; eletrocutou o Qayin em O Filho do Demônio; etc. Está certo que, em algumas dessas ocasiões, Batman estava tomado pelo ódio ou com muita raiva, ou então enfrentando uma situação muito adversa, mas o fato é que ele já quebrou seu voto de não matar em algumas histórias.
E o filme de 1989 não se inspirou apenas no Batman dos quadrinhos da Era de Ouro; ele também tomou como base a fase escrita por Steve Englehart nos anos 70, e até o próprio Englehart admitiu isso. Se formos ver, Vicky Vale, interpretada por Kim Basinger, corresponderia à namorada de Bruce Wayne nessa fase, Silver St Cloud; o chefão Carl Grissom, cujo papel foi feito por Jack Palace, seria o equivalente ao gângster Rupert Thorne; o Coringa de Jack Nicholson corresponderia ao Coringa daquela fase; e o Bruce Wayne de Michael Keaton também teria como base o Bruce Wayne daquela fase. Englehart inclusive já deu declaração corroborando isso:
“When I was done we had all the elements in the right places, and most importantly, we had Batman's ambiance, the thing no one else could do. So screenwriter Sam Hamm and director Tim Burton took over, and three years later - after Silver and Boss Thorne had their names changed for various reasons - the one Batman movie everyone liked hit the screen.”
http://www.steveenglehart.com/Film/Batman%20movie.html
Enfim, só pelo que foi exposto anteriormente, já deu para perceber que a Warner quis apostar na mística do Batman de Michael Keaton como o maior Batman do cinema. Infelizmente, nem a participação do Keaton ajudou o filme a fazer bilheteria. O longa está fazendo água até agora. E, na minha opinião, o filme só melhora a partir do segundo ato, quando o Bat-Keaton aparece. Se não fosse por ele, com certeza seria consideravelmente pior.
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