Por Trás dos Quadrinhos (Vilões) - Parte III | DEADPOOL
Pois é, estava pensando sobre que personagem abordar no próximo artigo da série de perfis de vilões que estou escrevendo para o blog, e pensei em fazer um sobre o Deadpool, para ter visualizações, uma vez que ele é modinha. Então, visualizem esse post, galera.
Eu, pessoalmente, era um cara meio dividido sobre o Deadpool. Houve uma época em que fazia coro com os detratores e o considerava um refugo dos anos 90, um lixo, basicamente. Porém, nos últimos anos, tenho lido mais histórias do mercenário tagarela, inclusive o Deadpool Clássico da Panini, e meio que virei um fã do personagem.
Acredito que até os haters do Deadpool se impressionam com sua popularidade. E, realmente, na trajetória do personagem, há algumas peculiaridades. É de conhecimento quase notório que ele surgiu como vilão dos Novos Mutantes, em New Mutants #98, do “mestre” Rob Liefeld, no longínquo ano de 1991, em que levou um cacete de Cable (outro refugo dos anos 90) e dos fedelhos da equipe. Deadpool na realidade é uma óbvia cópia homicida do Homem-Aranha, mas também referencia o Exterminador da DC. É só observar que seu nome verdadeiro, Wade Wilson, é uma paródia do nome do Exterminador, Slade Wilson.
Não demorou muito para a Marvel perceber que Deadpool poderia ser o protagonista de suas próprias histórias, pois o leitor de quadrinhos dos anos 90 gostava desse tipo de personagem bisonho, dark e hiperbólico, com direito a muita violência. Deadpool ganhou duas minisséries, Deadpool: The Circle Chase, escrita por Fabian Nicieza, em que o mercenário está atrás do testamento de Tolliver e também de sua amada Vanessa, e outra escrita por Mark Waid, antes da sua fase lacradora e de ter se tornado o Zé de Abreu dos quadrinhos.
No entanto, foi somente quando a Marvel resolveu lançar um título mensal de Deadpool, escrito por Joe Kelly e desenhado por Ed McGuinness, em 1997, que o personagem deslanchou de vez. Kelly notou que Deadpool não poderia mesmo ser escrito de forma séria, e partiu para a zueira e a irreverência. Claro que há um pouco de drama na fase de Kelly, mas a tônica é mais de humor mesmo. O escritor tratou de deixar o personagem mais carismático para os leitores, atenuando seu lado amoral e niilista. Inicia-se um arco de redenção, em que Deadpool se torna mais “suave”, muito por conta de ele ter se apaixonado por Siryn, a filha do Banshee. Essa fase também estabelece muito da “mitologia” do mercenário, como o bar Inferno, o Fuinha e a velha Al como coadjuvantes e a apresentação do arqui-inimigo de Deadpool, T-Ray. Não que o Deadpool daquela época seja um cara afável. Inclusive, naquela época, Deadpool era mais imprevisível; você não tinha como saber se ele feriria alguém que não merece. Dubiedade essa que foi muito bem trabalhada por Kelly; é só lembrar da sequência em que Deadpool tortura o Fuinha e a vela Al na caixa. Zoe Culloden, a advogada da firma futurista Landau, Luckman e Lake, passa a ser uma coadjuvante frequente nas histórias, que apostava na regeneração de Wade. Também há a revelação da origem de Deadpool, bem como seu envolvimento no Projeto Arma X, o mesmo que inseriu o Adamantium no Wolverine. Mas Wade fazia parte da "turma do fundão" do projeto, desesperado para achar a cura de seu câncer. Há enfim o acerto de contas entre Deadpool e seu "criador", o doutor Killbrew.
Dessa fase em diante, até mesmo quando outros escritores assumem o título, Deadpool passa a destacar-se como sendo um personagem de zueira, tirando sarro do universo Marvel. Ele na verdade zoa até mesmo a si mesmo, como na fase em que é substituído pelo Agente X. Não contente com isso, a Marvel publicou uma HQ em que o mercenário tagarela voltava a fazer um dueto com seu nêmesis original, Cable, escrita por Fabian Nicieza.
Vale destacar também a revista da linha Max do Deadpool, que é insana e apresenta uma versão para maiores do personagem. Não apenas isso, mas há também a HQ Deadpool massacra o universo Marvel, em que o mercenário realiza seu maior feito, que é o genocídio dos heróis da editora. Logo se percebe que não há HQ maluca o bastante para o personagem. Destaca-se também a dobradinha de Deadpool com o Cabeça de Teia em Deadpool/Homem-Aranha e sua “equipe”, os Mercenários Por Dinheiro, que possui título próprio.
Em vista disso, fica a pergunta? Por que Deadpool se tornou tão popular. Creio que é por diversos fatores. O primeiro é porque personagens violentos e absurdos fazem certo sucesso com a molecada. Ademais, o fato de suas histórias serem entendidas como humor e paródia referentes ao universo Marvel sedimentou sua base de fãs. Wade é tão insano que até sabe que é um personagem de quadrinhos e quebra a quarta parede, conversando com os criadores de suas histórias e os leitores. Claro que a Mulher-Hulk de John Byrne já fazia isso nos anos 80, mas...
E, para arrematar, houve o filme do Deadpool, em 2016, em que ele foi interpretado por Ryan Reynolds. A grande sacada é que conseguiram fazer de Deadpool um meme da internet até mesmo antes de o filme estrear, o que fez a popularidade do personagem explodir de vez. Até mesmo meio que esqueceram do Deadpool de Wolverine: Origens, apesar de que o próprio Ryan Reynolds zoa consigo mesmo e com essa versão do personagem no filme. Deadpool 2, com a participação do Cable de Josh Brolin, foi outro grande sucesso cinematográfico. O filme ainda trouxe versões live action da Dominó e de outros personagens trash dos comics dos anos 90.
Dessa forma, parece que, para um personagem B ou da subcultura dos quadrinhos dos anos 90, Deadpool se mantém em forma e rendendo boas verdinhas para a Marvel, sendo praticamente o Pernalongas da editora. No campo cinematográfico, há o rolo de a Fox ter sido comprada pela Disney e de agora o personagem ser do Marvel Studios, que deve apostar em filmes mais família, deixando de lado a violência, a escatologia e o politicamente incorreto dos filmes com Ryan Reynolds. A conferir como irão lidar com essa batata quente. Rob Liefeld ficaria intrigado.
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