Vilões são mais populares que os heróis? Parte II - Arlequina e Hera Venenosa

 
Bom, promessa é dívida. Seguindo a série de artigos Vilões São Mais Populares Que os Heróis?, uma vez que o Coringa foi o tema do artigo anterior, dessa vez irei falar sobre a “mulé do Coringa”, a popstar Arlequina, e sua “namorada” Hera Venenosa. Devo dizer que não sou especialmente um grande fã da personagem, mas não dá para negar que ela conquistou seu espaço na cultura pop, graças a um padrinho, Paul “coff coff” Dini.

No entanto, vamos do início. Vale dizer que existe uma Arlequina anterior, Duela Dent, que de vez em quando ainda aparece nos quadrinhos, apesar de ser bem desconhecida da maioria. Óbvio que a versão mais conhecida da personagem é a de Harleen Quinzel, uma psiquiatra com uma porrada de PHDs que se apaixona pelo clássico “Zé Droginha”, o Coringa. Insólito? Nem tanto.



Recordando o que todo mundo já sabe, Arlequina foi criada na série animada do Batman para ser uma sidekick do Coringa. Porque diabos o Palhaço do Crime precisaria de uma sidekick, não faço ideia. Mas creio que foi para suavizar o vilão perante uma classificação indicativa que abrangeria crianças. Então, a partir do episódio Um Favor para o Coringa, Arlequina estava presente na maioria dos episódios em que o Coringa aparecia.

Entretanto, o criador da Arlequina, Paul Dini, um dos criadores, aliás, o outro foi o Bruce Timm, sempre tentou proteger sua cria, e logo começou a escrever uns episódios em que a palhacinha era praticamente a protagonista; alguns em que ela inclusive tentava se regenerar. Vale também destacar a HQ Louco Amor, que provavelmente é a melhor história da Arlequina até hoje e que revela em flashback como Harleen conheceu o Coringa e se apaixonou pelo vilão.Paul Dini não parou aí. Ele insistiu para que Arlequina fosse integrada ao universo canônico dos quadrinhos, pois esse é o universo “caviar”, digamos assim. Dessa forma, durante a saga Terra de Ninguém, foi publicado o especial da Arlequina, que já introduzia a personagem na saga, caindo logo no colo do Coringa. O passo seguinte foi até ousado. A DC resolveu publicar uma revista mensal da Arlequina, escrita por Karl Kesel e desenhada por Terry Dodson, o desenhista das gostosonas. No entanto, o início dos anos 2000 era um período diferente do atual, e a revista da palhacinha não vingou, sendo logo cancelada.


Dessa época até o início dos anos 2010, houve um período no limbo, em que a Arlequina, apesar de ter seu fandom, ficou meio que orbitando o universo do Batman. Vale a referência a quando Paul Dini escreveu Detective Comics nos anos 2000 e aproveitou para fazer sua criação marcar presença nas histórias. Sim, o “culpado” pelo sucesso da Arlequina é principalmente Paul Dini; ele não apenas criou a personagem, como também forçou a presença dela em várias histórias do Cavaleiro das Trevas.

Eis que chegou a Era das Trevas, a Warner, furiosa pelo fato de os gibis da DC estarem levando uma surra de vendas da Marvel, decide chamar uma das produtoras dos filmes da franquia Harry Potter para ser a presidente da DC Entertainment. Uma das propostas é retomar o Esquadrão Suicida, a equipe de vilões da editora. Devem ter achado que a Arlequina seria um bom chamariz para os leitores. Entretanto, a Arlequina que foi apresentada na HQ diferia muito da Arlequina tradicional. Se antes, ela era uma  palhacinha burlesca, agora era uma punk girl insana com sexualidade aflorada. E, pior, essa nova Arlequina não apenas matava, como também assassinava gente inocente. Os fãs da personagem repudiaram essa mudança.


Em vista da repercussão negativa da Arlequina “vida loka” do quadrinho do Esquadrão Suicida, a DC decidiu mais uma vez lançar uma revista solo da personagem, mas qual foi a surpresa quando verificaram que, dessa vez, a HQ da palhacinha estava vendo mais que água no Piauí. Os tempos eram outros; graças ao gênero de super-herói ter se tornado mainstream, havia um filão de meninas que tinham “carência nerd”, e a Arlequina vinha bem a calhar. É difícil fazer um estudo demográfico sobre o perfil do leitor da revista da personagem, mas creio que a maior parte é formada por meninas e jovens adultas. Claro que há alguns boomers, tipo eu, que leem qualquer porcaria. Não é como a Mulher-Maravilha, que, desde a época da fase de George Perez, tem uma sólida base de leitores homens; os mesmos leitores das histórias de Batman, Superman e Homem-Aranha.

Nessa HQ da Arlequina dos Novos 52, escrita por Jimmy Palmioti e desenhada por Amanda Conner, a palhacinha recebe a proposta de se mudar para Coney Island, para onde vai de mala e cuia, conhece uma turminha do barulho e apronta muita confusão, no melhor estilo Sessão da Tarde, só que não. Não demora para que Pamela Isley, a Hera Venenosa, namorada da Arlequina, dê as caras também. Nessa HQ, não se esquecem das origens cartunescas da personagem. É basicamente a narrativa de Tiny Toon, mas com mais violência.



Quando parecia que Arlequina não poderia galgar degraus mais altos, a Warner realiza o filme do Esquadrão Suicida, um arremedo de filme, horroroso, mas, em meio a tanta merda, cresce uma flor, a estonteante Margot Robbie interpreta a palhacinha, que praticamente se torna um ícone. Mais importante que um ícone, um meme. É alvo da tanto da adoração da molecada onanista quanto da fascinação das adolescentes “empoderadas”.

No entanto, como dizem, nada é pior que não possa piorar. Margot Robbie aposta em seu cacife e produz a “sequência” de Esquadrão Suicida, Arlequina e as Aves de Rapina. 


Dessa forma, chegamos ao ponto em que a Arlequina se tornou um ícone da cultura pop, amada por muitos e odiada por muitos igualmente. O céu é o limite para a personagem, que até irá ganhar uma série animada própria, voltando à mídia que a originou.

Há quem defende que a Arlequina é o Deadpool da DC, e, a bem da verdade, é isso mesmo. Ambos são protagonistas de HQs de zoeira, em que nada deve ser levado a sério. Há também quem critique a personagem e a aponte como mau exemplo para crianças e adolescentes, o que é igualmente verdade. Porém, concordo um pouco com o argumento de que essa afirmação tem um pouco de machismo embutido, mas não é qualquer um que pode ser o Deadpool, precisa ter um fator de cura e arranjar umas armas. Se bem que não é tão difícil a molecada ter armas hoje em dia. No entanto, para ser a Arlequina, é só botar um top, enfiar um shortinho no rego, e, pronto, está aí o cosplay de personagem.

Aproveitando a emenda para comentar um pouco sobre a “namorada” da Arlequina, Hera Venenosa. Infelizmente, só temos a lamentar, pois foi uma personagem que foi destruída apenas para poder ser par romântico da palhacinha.

Em sua origem, Pamela Isley, a Hera Venenosa era mais uma vilã do Batman que tinha objetivos padrões de vilões de quadrinhos, poder e dinheiro. Claro que seu amor pelas plantas já existia, bem como alguma semente da ecoterrorista louca que se tornaria. No pós-Crise, Hera é estabelecida como uma vilã insana e homicida, com pretextos ecológicos. Há também certa carga de misandria na personagem, uma vez que ela sofreu abusos físicos e psicológicos de Jason Woodrue, o Homem Florônico, quando era sua aluna na faculdade. Óbvio que isso não justificaria suas atitudes de crueldade posteriores, mas dava um verniz interessante para a personagem. Além disso, ela tinha certa obsessão sexual por Batman também.



Desde que Hera se tornou a namorada da Arlequina, ela se tornou uma personagem desinteressante. Na verdade, praticamente a destruíram. Não dá nem mais para chamá-la de vilã; Hera não pratica mais crimes hediondos, é uma anti-heroína ao lado da Arlequina. Ambas se assumem como lésbicas LGBT; a misandria de Hera foi bastante atenuada. E, graças ao esperneio das feministas que reclamam da sexualização, o maiô que era seu uniforme foi convertido em um traje completo. Nem os onanistas podem alcançar a felicidade hoje em dia, porca miséria! A despeito disso, a roupa atual da Arlequina é bem sumária, mas reclamam do excesso de pele da Hera. Santa hipocrisia, Batman!


Particularmente, fico bastante triste com o que fizeram com a Hera, pois, no meu entender, ela era a grande vilã do Batman. Sei que a maior vilã do herói historicamente é a Mulher-Gato, mas, quando comecei a ler quadrinhos da DC, no pós-Crise, ela já tinha perdido esse status de vilã, era mais uma antagonista, então, para mim, a principal vilã do Cavaleiro das Trevas era sim a Hera. A galeria de vilões do Batman é predominante masculina, o universo do personagem é masculino; há umas poucas vilãs mulheres de não muita expressividade, fora Mulher-Gato e Hera Venenosa, como Magpie e a Rainha de Copas. Então, a Hera de antigamente faz muita falta. Sei que muitos não concordam comigo e a preferem como a namorada da Arlequina. E acho que a DC não iria mudar isso, com medo da cólera dos militantes LGBT, que não necessariamente consomem as histórias de Arlequina e Hera.


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