MEMÓRIA EM QUADRINHOS - QUANDO O DESEJO DE VENDER CEDE AO RACISMO!
Todos os que são fãs de quadrinhos e leitores assíduos, sabem que as editoras fazem qualquer negócio para vender mais. Alguns dos métodos já conhecemos e até mesmo esperamos (apesar de nem sempre gostarmos): matar um personagem principal ou importante; ressuscitar estes personagens; tirar ou modificar os poderes de vilões e heróis; mais recentemente, mudar o genero ou preferências sexuais de personagens. Mas, ceder ao preconceito? Por causa de vendas? Perder chance de ser pioneira? Bem aconteceu. E nós mostramos em nossa matéria...
Quando foi anunciada a morte de Neal Adams, postamos aqui uma matéria falando sobre uma história que envolvia Adams, Marv Wolman e Len Wein. Na ocasião prometemos que iríamos contar uma outra, também envolvendo os três, e é o que faremos agora. Mas, a história acaba também expondo um dos 'esqueletos no armário' da DC COMICS...
No final da década de 60, faziam mais ou menos 25 anos que os quadrinhos existiam e havia uma certa estagnação na indústria de quadrinhos, tendo em vista que as pessoas que escreviam as histórias estavam lá desde sua criação. Eram escritores de ficção cientifica ou das chamadas 'pulps', ou seja, nenhum deles era um fã de quadrinhos, pois já eram adultos quando elas apareceram.
Mas, nesta época houve um inicio de mudança neste setor, pois começaram a aparecer os primeiros escritores que cresceram lendo quadrinhos. E aqui vou acabar contribuindo com a guerra entre marvetes e dcnautas ao dizer que a Marvel saiu na frente! Um exemplo claro da tendência de mudança foi a contratação de Roy Thomas por Stan Lee, o que teve como consequência uma onda de jovens escritores trabalhando na editora no final dos anos 60 e inicio dos 70...Mas, e a DC COMICS?
Bem, na DC as coisas foram um pouco mais...lentas. E é ai que entram Len Wein e Marv Wolfman, dois escritores adolescentes (na época) que começaram a fazer visitas semanais aos escritórios da DC Comics, na tentativa de conseguir trabalhos de escritores de quadrinhos. Eram meados da década de 60...Depois de muita insistência, Joe Orlando contratou a dupla para escrever uma edição de Jovens Titãs em 1968 para o editor Dick Giordano.
Giordano então tinha 30 anos e era considerado um bebe para os padrões editoriais da DC Comics e por isto mesmo era mais receptivo a novos talentos do que os demais editores. Já em sua primeira edição, Wein e Wolfman já radicalizaram (sob ponto de vista da época) ao apresentarem um super-herói...russo! O personagem era o Estrela Vermelha...
Agora, imaginem! Dois caras jovens, lançam uma história fora dos padrões e esta história é aceita...Claro que iriam querer continuar inovando! Acontece que eles perceberam que não havia nenhum herói negro e eles não entendiam isto, pois embora não fossem negros havia muitos deles por toda Nova York. Em vista disto, propuseram uma história onde apareceria em super-herói negro...
Nesta época a editora era comandada pelos proprietários originais e a história foi apresentada a Irwin Donenfeld, vice-presidente e filho do co-fundador da empresa e ele adorou a ideia! 'Sinal verde' recebido, os dois jovens escreveram a história e Nick Cardy começou a desenhá-la. A história tinha como premissa a manipulação da Máfia a uma gangue de negros na cidade. A máfia se aproveitava da revolta que estava no ar por causa do tratamento dado aos negros. Aparecia então um novo super-heroi chamado Jericho, que pregaria o poder da paz sobre a violência. Em uma revelação final ficaríamos sabendo que Jericho era na verdade irmão de um dos membros da gangue! Inclusive a capa já estava pronta!
Mas, antes da publicação da história houve uma mudança de comando na editora. Saíram os Donenfelds e entrou Carmine Infantino, que não gostou do trabalho realizado, segundo declarou "não se lembra de nenhum detalhe agora, mas sei que simplesmente não gostei...". O problema é que Wein lembra de forma diferente! Segundo ele "no último minuto Carmine ficou timido e temeu que não pudéssemos vender a revista no sul (por causa da segregação racial)...".
Os dois escritores não gostaram nada do que aconteceu e ai entra Neal Adams, que ja era um artista estabelecido na DC e um dos 'mais quentes'. Adams sugeriu a Infantino que os dois retrabalhassem a história, mas ele não quis! Len e Marv pediram que Adams lesse a história para para ver se havia algo errado nela, pois a administração a rejeitara. Adams não gostou da história, achou que seria ofensiva...as pessoas brancas!?!? Adams chegou a editar a historia, mas sua edição também foi rejeitada...
Para substituir a história rejeitada, Adams escreveu e desenhou outra, aproveitando algumas das ideias básicas de Wein e Wolfman. Assim a gangue passou a ser uma gangue de brancos e 'Jericho' virou 'Joshua'. Mas, a situação parece ter sido demais para Wein e Wolfman e eles se mudaram para a Marvel Comics, embora cada um deles ainda tivesse algum trabalho na DC.
Como sempre acontece, depois que os dois foram para a concorrente Marvel, a DC Comics ofereceu mais trabalhos para eles. Ou seja, criou-se aqui uma máxima: 'prove que outra empresa quer você e seu emregador original vai quere-lo mais ainda!'.
Para terminarmos: Wolfman posteriormente, como piada, introduziu nos Jovens Titãs (no Brasil também foi chamada de 'Novos Titãs') o personagem Jericho...O primeiro super-herói negro acabou sendo da rival Marvel. Era o Pantera Negra, que apareceu a primeira vez na revista "Quarteto Fantástico # 52" (julho de 1966), porém originalmente Jack Kirby o concebeu com o nome "Coal Tiger". Que traduzido quer dizer: Tigre de Carvão...ainda bem que mudaram! O segundo super herói negro? O Falcão, introduzido em "Capitão América # 117" (setembro de 1969)...
Que ótima chance a DC Comics perdeu!!!!
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