Papo de Cinema | 13º ANDAR (The Thirteenth Floor) - 1999

 


Lançado no ano de 1999, o mesmo ano de Matrix e Clube da Luta, esse thriller de ficção científica passou despercebido de muita gente, mas deixou uma marca profunda em quem teve o prazer de descobri-lo (geralmente por acaso), numa locadora ou numa sessão tardia na TV. 
Antes do boom das discussões sobre realidades simuladas e inteligências artificiais, o 13º Andar já nos fazia questionar: "E se tudo o que vivemos for apenas uma simulação?" Com uma atmosfera densa, uma trilha sonora marcante e uma trama que mistura mistério policial com filosofia existencial, o filme nos transporta por camadas de realidade  (ou ilusão) como poucos conseguiram fazer naquela época. 
Se você tem boas lembranças dos finais dos anos 90, de noites em frente à TV com pipoca na mão e cabeça cheia de teorias, prepare-se: este artigo é uma viagem ao passado, e ao mesmo tempo, uma revisita às perguntas mais inquietantes sobre o presente.


SINOPSE: Douglas Hall é um brilhante programador que trabalha em uma empresa de alta tecnologia em Los Angeles. Junto com seu mentor, Hannon Fuller, ele desenvolve um avançado simulador de realidade virtual — um mundo digital que recria com perfeição a cidade de Los Angeles dos anos 1930, povoado por "personagens" que acreditam ser reais.
Quando Fuller é misteriosamente assassinado, Douglas se torna o principal suspeito. Ao tentar provar sua inocência, ele mergulha no mundo virtual em busca de pistas — e descobre que a linha entre o real e o simulado é muito mais tênue (e perturbadora) do que jamais poderia imaginar.
À medida que investiga, Douglas começa a questionar a própria realidade em que vive. E se o mundo ao seu redor também for uma simulação?



Antes mesmo de assistir ao longa, eu já ouvia algumas teorias que supunham que o roteirista do filme 13º andar teria, na verdade, teria tido acesso a um roteiro vazado  do filme Matrix,  ou que o estúdio tentou apressar o lançamento para surfar na mesma temática e confundir o público. Outros ainda dizem o oposto: que Matrix teria se inspirado em ideias pré-existentes de O 13º Andar. Já tinha ouvido isso? 🤔

Pois bem, corri atrás e descobri que nenhuma dessas versões tem respaldo sério. 
  • O 13º Andar é baseado no romance "Simulacron-3", de Daniel F. Galouye, publicado em 1964. Esse livro já explorava a ideia de uma simulação dentro de outra — muito antes de Matrix existir.
  • Tanto Matrix quanto o 13º Andar começaram a ser desenvolvidos nos anos 90. Os Wachowski já vinham trabalhando em Matrix desde 1994, e o roteiro foi registrado bem antes da produção começar. Da mesma forma, o 13º Andar já estava em desenvolvimento com base em sua obra literária.
  • Embora ambos tratem de simulações, os tons e abordagens dos filmes são distintos:
    • Matrix combina ação, filosofia oriental e cyberpunk.
    • O 13º Andar segue uma linha mais noir, com ritmo mais lento e foco em mistério existencial.
  • Nunca houve ação judicial, acusação pública ou reconhecimento de plágio por nenhuma das partes envolvidas.
Então podemos concluir que essas teorias são pura especulação. Ambos os filmes surgiram de forma independente, embora compartilhem um tema que estava no ar no final dos anos 90, com a chegada da internet, da realidade virtual e das discussões filosóficas sobre simulação e identidade.


Título: 13º ANDAR
Título original: The Thirteenth Floor
Ano de lançamento: 1999
País: EUA
Diretor: Josef Rusnak
Roteiro: Josef Rusnak e Ravel Centeno-Rodriguez
Baseado em: Simulacron-3 (1964), romance de Daniel F. Galouye
Produtor: Roland Emmerich
Estúdio: Centropolis Entertainment
Distribuidora: Columbia Pictures (subsidiária da Sony Pictures)
Trilha sonora: Harald Kloser
Cinematografia: Wedigo von Schultzendorff
Edição: Henrique Richardson
Elenco principal:
- Craig Bierko como Douglas Hall
- Gretchen Mol como Jane Fuller
- Armin Mueller-Stahl como Hannon Fuller
- Vincent D'Onofrio como Jason Whitney / Jerry Ashton
Orçamento: US$ 16 milhões
Bilheteria:   US$ 18,5 milhões


OPINIÃO:

Lançado em 1999, O 13º Andar chegou ao público em um momento complicado: como competir com o Matrix? Enquanto Keanu Reeves desafiava um sistema opressor em cenas de ação eletrizantes, o filme de Josef Rusnak seguia um caminho bem diferente, optando pelo mistério, pela estética noir e por um ritmo mais contemplativo. Talvez por isso tenha passado despercebido na época, mas, hoje, merece ser redescoberto.

Baseado no romance Simulacron-3, o filme constrói uma trama intrigante sobre realidades simuladas, colocando o espectador no centro de um enigma existencial: e se o mundo ao nosso redor não for real? Mais ainda, e se nossa própria identidade for apenas uma ilusão? Essas são perguntas que, mais de duas décadas depois, continuam ressoando com força, especialmente na era das discussões sobre IA, metaverso e realidade virtual.

O tom mais contido do filme pode frustrar quem espera grandes reviravoltas ou ação frenética, mas, para quem aprecia sci-fi reflexiva, O 13º Andar entrega uma experiência envolvente. A recriação da Los Angeles dos anos 1930 dentro da simulação é um destaque visual, trazendo um charme vintage que reforça a sensação de artificialidade. Craig Bierko, no papel principal, transita bem entre o ceticismo e o desespero, tornando sua jornada crível e emocionalmente convincente.

Talvez o grande trunfo do filme seja sua abordagem sem exageros: ele não tenta impressionar com efeitos grandiosos, mas sim com ideias provocativas. É um daqueles filmes que deixam questões no ar muito depois dos créditos finais. Em tempos de overdose de informação e de mundos digitais cada vez mais sofisticados, o 13º Andar se mostra surpreendentemente relevante.

Se você gosta de ficção científica que faz pensar — daquelas que não oferecem respostas fáceis —, vale a pena dar uma chance ao 13º Andar. Não é apenas uma peça nostálgica do final dos anos 90, mas um filme que continua atual e merecedor de uma segunda olhada. Nota:6,5/10


CURIOSIDADES
  • O número 13 é tradicionalmente associado a azar ou mistério — um simbolismo intencional para o clima de paranoia e questionamento da realidade presente na trama. Muitos edifícios reais evitam ter um 13º andar por superstição, o que fortalece a metáfora do "andar oculto".
  • Antes do filme de 1999, Simulacron-3, livro de Daniel F. Galouye publicado em 1964, já havia sido adaptado como uma minissérie alemã chamada "Welt am Draht" (Mundo em Fio), dirigida por Rainer Werner Fassbinder em 1973. Essa versão é cultuada na Europa.
  • O sistema de simulação do filme foi baseado em conceitos computacionais reais como realidade virtual imersiva, redes neurais e inteligência artificial adaptativa, algo avançado para sua época.
  • A recriação de Los Angeles de 1937 foi feita com base em fotos de arquivo e cartões-postais reais da época, buscando fidelidade histórica e visual no mundo simulado.
  • O papel principal de Douglas Hall (vivido por Craig Bierko) quase foi dado a Vincent D'Onofrio, que acabou interpretando o papel duplo de Jason Whitney/Jerry Ashton. Bierko era um nome pouco conhecido, o que surpreendeu críticos.
  • A narrativa discute ideias inspiradas em Descartes ("Penso, logo existo") e em Jean Baudrillard, especialmente sobre simulação, consciência e realidade — temas que também influenciaram Matrix.
  • Na época de seu lançamento, o filme fracassou nas bilheterias, mas com o tempo se tornou um filme cult entre fãs de ficção científica por seu enredo complexo, estética noir e abordagem filosófica profunda sobre realidade.
  • Apesar de subestimado, o filme influenciou roteiristas e diretores de séries e filmes sobre realidades simuladas e consciência digital — incluindo episódios de Black Mirror como “San Junipero” e “White Christmas”, embora raramente seja citado publicamente como referência.
  • A trilha sonora, composta por Harald Kloser, mistura sons eletrônicos com toques de jazz dos anos 30, refletindo os dois mundos paralelos do filme — o moderno e o simulado. Essa abordagem foi elogiada por criar uma ambientação imersiva, sem recorrer a trilhas exageradamente futuristas.
  • A direção de arte e a fotografia intencionalmente usam estética noir — como sombras duras, fumaça, e iluminação contrastada — principalmente nas cenas do mundo de 1937, prestando homenagem a filmes como O Falcão Maltês e Janela Indiscreta.
  • No filme, o programa de simulação é chamado de "Huxley Program", uma clara referência ao autor Aldous Huxley, de Admirável Mundo Novo, famoso por explorar realidades alternativas e sociedades controladas.

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