IN MEMORIAN: Sonny Chiba, o "karateka" selvagem
A bem da verdade, no Brasil e no mundo, Sonny Chiba é mais lembrado pelo papel de Hattori Hanzo, em Kill Bill de Quentin Tarantino, um dos mestres do infame Bill. Foi uma maneira de Tarantino fazer referência a um dos atores que admirava. Nessa cena, quem faz companhia a Chiba é Kenji Ohba, velho amigo do ator e que foi o primeiro metal hero, Gavan.
Nascido em Fukuoka, em 1939, Chiba teve uma prolífica carreira de ator de filmes de artes marciais e, mais especificamente, em papeis de lutadores de caratê. No entanto, ele também era graduado em Ninjutsu (4o Dan), Gojuryu (2o Dan), judô (2o Dan), kendô (1o Dan), Shōrinji kenpō (1o Dan) e Kyokushin (4o Dan). Provavelmente, seu filme mais famoso é The Street Fighter de 1974, que não tem nada a ver com a turma de Ryu e Ken, antes que alguém pergunte. No enredo, China interpreta Terry Tsurugi, um lutador de caratê selvagem que sente prazer em lutar e desafiar sempre os mais fortes. Vale dizer que Tsurugi é um anti-herói por excelência, o personagem realmente tem um lado mau de sua personalidade e gosta de machucar os outros. No entanto, em vista de algumas circunstâncias, ele é obrigado a defender a filha de um magnata de uns bandidos.
The Street Fighter foi o primeiro filme a receber censura X-rated nos EUA, não por causa de pornografia, como era comum, mas sim em razão da extrema violência. Em uma das cenas, por exemplo, um dos bandidos, um homem negro ocidental, vai estuprar a mocinha, e Tsurugi o castra com as mãos. Depois só corta a cena para o cadáver do bandido, banhado em sangue vermelho vivo; nem escondiam que era tinta. Imagina essa cena hoje em dia, em tempos politicamente corretos, nem ferrando. The Street Fighter fez tanto sucesso que gerou mais duas sequências bem sangrentas também: Street Fighter - O Retorno e Street Fighter - A Vingança.
Outro filme de Chiba que merece destaque é Golgo 13, de 1978, baseado no famoso mangá. Ele interpreta o protagonista, Duke Togo, um assassino de aluguel que sempre cumpre suas missões, não interessa o risco.
Vale dizer que Sonny Chiba também foi o fundador do JAC – Japan Action Club, a famosa escola de dublês do Japão, que foi o celeiro de muitos nomes que abrilhantaram o tokusatsu; entre eles, o já citado Kenji Ohba, um grande brother de Chiba durante toda a vida. A despeito disso, Chiba também teve um famoso desentendimento com Hikaru Kurosaki, o ator do Jaspion, em razão da falta de segurança que os dublês enfrentavam na época; o sistema era bruto, e Chiba não estava nem aí.
Sonny Chiba representa o homem macho raiz japonês, em uma sociedade em que o homem hoje em dia exala estrogênio, até mesmo lá no Japão. É só ver que antigamente os protagonistas de tokusatsu eram dublês; hoje em dia, são modelos com cabelo espetado e andrógenos. Assim caminha a humanidade.
Infelizmente, Chiba não conseguiu internacionalizar sua carreira, sendo admirado no Ocidente apenas por um gueto de fãs raízes de cultura pop japonesa. Os atores de artes marciais chinesas conseguiram ser mais bem reconhecidos no Ocidente, tanto nos EUA quanto no Brasil, apesar de as pessoas se lembrarem dos nomes de poucos, como o mais que celebrado Bruce Lee, Jackie Chan ou, mais recentemente, Jet Li. No entanto, não houve uma febre de filmes de caratê como a de filmes de Kung Fu, que dominou os anos 70. Para se ter uma ideia, o ator que era mais conhecido por ser mestre de caratê no Ocidente foi Chuck Norris, um ocidental. Não desmerecendo Norris, que foi realmente um grande lutador de caratê, chegando a ser campeão mundial. Entretanto, esse lado de artista marcial acabou sendo diluído nas dezenas de filmes que fez, nos quais acabou incorporando o ator de filmes de ação genérico.
De toda forma, não é tarde para fazer justiça a Sonny Chiba como o grande astro de filmes de artes marciais japoneses, que infelizmente não chegou a ter todo o reconhecimento que mereceria fora do Japão, mas que por lá se tornou uma lenda viva.
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