MEMÓRIA EM QUADRINHOS | QUANDO BATMAN PAROU DE MATAR SEUS INIMIGOS
É bastante provável, que de vez em quando você se depare com alguma postagem onde a pessoa faz a chocante revelação de que BATMAN usava armas de fogo e que matava seus inimigos. E é verdade! Mas, apenas durante algum tempo. Nossa matéria traz a razão pela qual o morcego PAROU DE MATAR e também QUANDO ele mudou seu proceder anterior. E convidamos a todos a relembrarem conosco e conhecerem mais seu herói preferido! Vamos lá?
Há pouco tempo, quando o Batman Affleck entrou em ação e deu a "solução definitiva" a alguns bandidos, os fãs mais ferrenhos de Batman ficaram alucinados e "rasgaram suas vestes" em praça pública (exagero, claro), em protesto contra a regra de "não matar" ter sido quebrada. Convenientemente esquecendo-se que Batman Keaton também matou sem muito drama de consciência.
E é exatamente sobre o inicio desta regra de "não matar" que nossa matéria trata. Antes de tudo é importante lembrar que no inicio dos quadrinhos, os roteiristas e artistas eram todos originários das publicações chamadas "Pulp Fiction", que tinham muitos mistérios e...mortes. Somente algum tempo depois é que surgiram os roteiristas e artistas que já tinham uma cultura de quadrinhos e que sabiam a diferença entre os dois gêneros.
Também é necessário ter em mente que os personagens não chegavam prontos, inteiramente formados, especialmente nos quadrinhos. Eles evoluíam, eram moldados com o tempo e como no inicio não havia preocupação com as implicações de uma história a longo prazo (ainda não tinham inventado a canonicidade...), eles podiam ser moldados, revisados e expandidos por diferentes escritores...
E no caso especifico de Batman, quando ele foi introduzido lá nas paginas da revista "Detective Comics # 27", estava longe de ser um herói totalmente desenvolvido. Na verdade o termo 'herói' seria até um pouco duvidoso, já que Bob Kane pensou em um Batman nos moldes do vigilante 'pulp' "O Sombra". Cuja filosofia era que seu dever era derrubar os criminosos com armas de fogo...
Mas, isto não significa que Batman saia metendo bala nos bandidos sem pensar duas vezes. Na verdade, de maio de 1939 a maio de 1940, Batman só foi retratado portando uma arma cinco vezes em 16 histórias e fazendo uso delas apenas em duas delas. Claro que Batman pode matar uma pessoa usando outros meios...
Porém, é preciso destacar que Batman já deu a 'solução definitiva' a algum vilão em sua primeira história! Seu nome era Alfred Stryker, sobre quem você nunca deve ter ouvido falar, porque Batman o jogou por sobre uma grade dentro de uma cuba de ácido (!!) e ainda soltou o comentário: "um fim apropriado para sua espécie".
Depois disto, Batman acabou matando direta ou indiretamente pelo menos por mais 13 vezes!! Sendo que o ápice da coisa foi na revista "Batman # 1" de 1940, na história "Os gigantes de Hugo Strange", quando o morcego pendurou um dos "Homens Monstro" pelo pescoço no bat-plano e os demais 'liquidou' usando uma metralhadora antes que chegassem a uma área povoada...
BATMAN PARA DE MATAR
Nesta época tanto Batman quanto Superman começavam a ficar populares entre as crianças. E aqui vou destruir a infância e inocência de muitos: Superman também matava!! Não, não adianta me ameaçar, tentar descobrir meu endereço. Era um fato!
Ora, Whitney Ellsworth editor da National Publications (que se tornou a DC Comics mais tarde), demonstrando ter uma visão mais realista das coisas e antevendo os problemas que os quadrinhos enfrentariam (Código dos Quadrinhos), ficou preocupado com o efeito destas mortes. Ele achava difícil que os pais tolerariam que seus filhos lessem sobre assassinos desonestos (existem assassinos honestos?) sendo eliminados violentamente pelos chamados 'heróis'...
Seu raciocínio era que Batman e Superman estavam se tornando ícones e que as crianças olhavam para eles com admiração. E fazer os dois (e os demais heróis) resolverem o problema matando seus inimigos não agradaria aos pais. E isto terminaria com a boa fase dos heróis cedo. Além disto, tornar possível que os vilões voltassem, tornaria os quadrinhos mais lucrativos...
Assim, Whitney Ellsworth estabeleceu a "Regra de Não Matar". Primeiro ao Superman e posteriormente a Batman. No caso de Batman ainda havia um agravante: Robin. Robin foi criado para amenizar a violência de Batman e a ideia de que o morcego não tivesse restrições a matar e ensinasse isto ao jovem, era inconcebível para Ellsworth.
Ellsworth conversou com Bob Kane e Bill Finger e estabeleceu que a regra agora era de que Batman não mata! Em conformidade com isto, em "Batman # 4", quando a dupla dinâmica enfrenta piratas, Batman declara: "Use apenas o lado plano da espada Robin! Lembre-se: nós nunca matamos com armas de qualquer tipo!".
Claro, que embora isto seja muito bonito Batman acabou causando muitas mortes, porém agora indiretamente e as vezes acidentalmente (ficava arrasado). De qualquer maneira a norma foi definitivamente estabelecida: BATMAN NÃO MATA. Porém, os tempos estão mudando novamente e publico alvo dos quadrinhos também. As pessoas estão ficando mais brutais e intolerantes, esta regra pode ser 'flexibilizada'...
COMO REAGIRAM OS CRIADORES A NOVA REGRA
Bob Kane ficou furioso! Ele achou que esta mudança tirava de Batman sua essência, sua inspiração inicial (foi baseado em heróis pulp). Ele achava que isto tirava de Batman a alcunha de 'cavaleiro das trevas'. Conforme declarou no livro auto-biográfico: "Batman e eu". Porém, com o passar dos anos mudou de ideia, principalmente quando viu que os heróis em que se baseara, perderam popularidade justamente por causa das mortes que causavam...
Bill Finger teve uma reação absolutamente diferente! Ele lamentou ter deixado que Batman matasse em primeiro lugar. Achou que deveria ter conversado mais com Kane a este respeito. Ele acreditava que Batman deveria ter um 'terreno moral' claro. Que ele deveria solucionar as situações sem ficar parecido com aqueles a quem combatia. Não deveria ser apenas um vigilante, precisava ser um herói!
A verdade é que a regra de não matar, embora possa parecer boba, ajudou tanto a Batman quanto a Superman a se tornarem os ícones que conhecemos agora. E mais: também tornou possível o surgimento dos inúmeros super-heróis modernos.
Quem usaria uma metralhadora sorrindo??? |
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