FALANDO EM SÉRIE (MINI) - "SHÕGUN" (1980) - PRIMEIRA VERSÃO DO ROMANCE DE JAMES CLAVELL

 No final da década de 70 e inicio da década de 80, houve um repentino surto de produções de minisséries, estimuladas pelo sucesso de "RAÍZES" de 1977 (clique aqui saiba mais). Nossa matéria aborda e segunda minissérie de maior sucesso da época: SHÕGUN, cuja nova versão estreou há cinco semanas. Vamos relembrar??




É possível que muitos não reconheçam o nome JAMES CLAVELL. Ele foi um escritor, roteirista, diretor, veterano da Segunda Guerra e prisioneiro de guerra. Foi roteirista do filme "A MOSCA" de 1958 (inicialmente intitulado no Brasil: "A Mosca da Cabeça Branca") e "A Grande Fuga" de 1963. Dirigiu o clássico: "Ao Mestre, com Carinho"...


Mas, ele se tornou mais conhecido por seus romances da chamada "Saga Asiática". Os primeiros livros foram: "CHANGI", também chamado "Rei Rato", baseado em sua experiencia como prisioneiro de guerra; interligados (embora não tenham ordem para leitura) escreveu "TAIPAN""CASA NOBRE"  e "SHÕGUN"...




Uma de suas características era usar acontecimentos históricos como 'pano de fundo' para seus romances. Obviamente ele tomava muitas 'liberdades criativas' no uso dos dados históricos, o que significava alguns erros graves. Como por exemplo, tanto na série quanto no livro um dos personagens usa ostensivamente pombos-correios...que eram desconhecidos no Japão na época em que a história se passa. 


"SHÕGUN", as vezes chamado por aqui de "Xógum", foi o primeiro livro da chamada 'saga asiática' (seguido de "Taipan" e "Casa Nobre") e também o primeiro a ser transformado em uma minissérie. Como minissérie foi a segunda mais bem sucedida depois de "RAÍZES" e deu a NBC sua maior audiência histórica na época! 


A minissérie é vagamente baseada na história do navegador inglês William Adams, que viajou ao Japão em 1600 e conseguiu chegar a um alto posto a serviço do shõgun Tokugawa, chamado na série de Toronaga. SHÕGUN era um cargo máximo no Japão. Um líder militar único que ocuparia o trono até a maioridade do príncipe herdeiro. 


Na série William Adams é personificado como o marinheiro John Blackthorne, que pilota o navio comercial holandês Erasmus. Ele e sua tripulação são levados a terra, após sofrerem em uma violenta tempestade em Anjiro, costa do Japão. Como inglês, Blackthorne e sua tripulação são protestantes. E na época, o Japão sofria forte influencia da religião católica, levada pelos portugueses e pelos espanhóis. 


Como nem os portugueses e nem os espanhóis queriam protestantes por lá, conspiraram para que os ingleses fossem executados como piratas. Para piorar as coisas, o interprete entre os ingleses e os japoneses era católico. Como era de se esperar eles são condenados, porém a interferência de um dos conselheiros (e tio) do senhor daquela região, faz com que poupem temporiamente Blackthorne. 


Isto dá oportunidade a Blackthorne de começar a conhecer aquele estranho povo, suas atitudes e tradições. Blackthorne acaba salvando a vida de Toronaga e é nomeado hatamoto. Ele também começa a ser chamado de Anjin, piloto. A série gira em torno de intrigas politicas e por fim guerra pelo poder. Ao mesmo tempo mostra muito do Japão, claro sobre o prisma europeu. A aos poucos, Anjin começa a gostar do lugar e se envolver mais com os acontecimentos políticos. 


"SHÔGUN" também fez grande sucesso no Brasil quando foi lançada na Rede Globo, se tornando um grande líder de audiência. Talvez você ache que isto seria natural por ser exibido neste canal. Mas, o que você talvez não saiba é o seguinte: 


A série foi exibida SEM LEGENDAS  e SEM DUBLAGENS quando era um personagem japonês que estava falando!! Quando eram os ingleses, espanhóis ou portugueses, havia a dublagem. Assim, você não entendia o que a pessoa falava em japonês, assim como Anjin não entendia!! Mesmo esta condição não impediu o sucesso da minissérie, o que diz muito sobre ela! 


Mas, não fique pensando que "é coisa do Brasil"! Saiba, que na Europa e nos EUA também foi exibido assim!! James Clavell que era produtor executivo declarou que "se o personagem tinha dificuldades em entender a lingua, porque os telespectadores também não deveriam ter?". 


A PRODUÇÃO DA MINISSÉRIE...




James Clavell tinha um ator em mente para interpretar Blackthorne e não era um ator qualquer! Ele queria SEAN CONNERY (que teria ficado ótimo!). Mas quando fizeram a oferta ao ator, ele simplesmente riu e se retirou! As gravações seriam inteiramente no Japão e Connery já havia filmado lá, quando fez o que seria seu último filme de 007: "Só se Vive Duas Vezes" (primeiro filme que assisti do personagem!!)...E ele DETESTOU filmar lá!! E assim negou! 


(Connery fez mais um filme de Bond após "Só se Vive Duas Vezes". Foi "Os Diamantes São Eternos", considerado seu PIOR filme como 007. Curiosamente, foi o que se saiu melhor nas bilheterias, quando se considera seu custo!)


Bem com Connery 'fora da jogada', outros atores considerados foram Roger Moore (que seria um risco) e Albert Finney (pior opção!). Mas quem ficou mesmo com o papel foi RICHARD CHAMBERLAIN (inicialmente sob oposição de Clavell)...





O aspirante à shõgun Toronaga-Sama, foi personificado pelo já famoso TOSHIRO MIFUNE ("Sete Samurais"; "Yojimbo"; "Rashõmon")...




Finalmente como Mariko-Sama, YOKO SHIMADA ("Kamen Rider"; "Crying Freeman")





FILMES 'FAKES'...


A minissérie teve 5 episódios perfazendo um total de 547 minutos. Porém, foi reeditada por duas vezes para lançamento nos cinemas. A primeira para exibição no Japão, tinha 159 minutos de exibição. A segunda, para exibição no mercado europeu e americano, tinha 125 minutos (!!!) e foram acrescentadas alguma cenas de violência e sexo, obviamente cortadas da versão da TV, já que não eram permitidas em 1980. 


Infelizmente, no Brasil com a chegada dos videocassetes, também recebemos esta versão e alguns tiveram o infortúnio de assisti-la, recebendo assim um subproduto do que foi a minissérie. Tanto no Japão quanto nos EUA, a versão completa foi restaurada e vendida para vídeos caseiros. Porém, nos EUA foi apenas em...2003!!!


SHÕGUN 1980  x  SHÕGUN 2024




É uma injustiça sequer pensar em comparar as duas versões de SHÕGUN! Não há como compararmos uma minissérie produzido em 1980 com uma produzido agora. Em 1980 a tecnologia dos efeitos especiais eram extremamente limitada e caras. Para se fazer uma filmagem e acrescentar efeitos era necessário construir cenários, as vezes gigantescos, muitas vezes para apenas uma cena! 


Por exemplo, o veleiro chamado na minissérie Erasmus, era um navio REAL. Tratava-se de uma réplica do veleiro usado por Sir Francis Drake, capitão inglês, corsário e navegador famoso. A réplica foi construída para a comemoração de 400 anos da circum-navegação (volta ao mundo) realizada por Drake. O navio foi RESTAURADO para as gravações!! Hoje isto não seria necessário. 


Outra cena fantasticamente realizada na série atual, é em seu episódio 5 e envolve um terremoto que engole vivo Toronaga-Sama. Em 1980  a cena foi realizada, porém com as limitações de cenários construídos para serem demolidos. Com a tecnologia atual vemos de forma realista, Toronaga-Sama ser engolido e a avalanche de terra 'caminhar' em direção ao vilarejo, como se fosse uma inundação! 


Melhor então é concluir que cada uma, em seu tempo foi/é uma inovação. Alguns que assistem a nova versão dublada, reclamam que quando o personagem é japonês aparecem legendas. Alguns desistem de assistir! E em 1980, que não aparecia NENHUMA legenda?? E a série assim mesmo foi campeã de audiência!? Como vemos, a tecnologia ajuda muito, mas isto não diminui o que foi feito há 44 anos atrás!! 



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