PAPO DE CINEMA - FINAIS QUE ATRAPALHAM - "TIMECOP"
Acho que a pior coisa para um cinéfilo é assistir a um filme que tinha tudo para ser um filmaço e ele ser estragado por roteiros mal formulados ou mal concluídos! Nossa matéria traz um exemplo: "TIMECOP". Sim! Cultuado por muitos, mas também com muitas falhas e um final... Leia nossa matéria para entender melhor...
(Caso você tenha estado fora do planeta ou em coma pelos últimos 31 anos, saiba que a matéria tem spoillers!)
Na década de 90, assistir a um filme de Jean-Claude Van Damme era quase obrigatório. E o ator durante muito tempo quis chegar ao 'primeiro escalão'. Aquele com atores que ganhavam com muitos dígitos a mais e podiam escolher em que participar.
Mas, como todos sabemos, Van Damme tinha um problema com substâncias químicas proibidas e também tinha o hábito de interferir nas filmagens e no roteiro. Exigia, por exemplo, closes em seus bíceps, peitorais, panturrilhas e ... glúteos. Também exigia aquelas lutas finais, muitas vezes quase intermináveis (e que já estragaram alguns de seus filmes) e, claro, o espacato.
Mas, em 1994 ele conseguiu chegar muito perto do almejado 'primeiro escalão' com o filme "TIMECOP". Título que ganhou um 'apêndice' no Brasil: "O guardião do tempo".
Este sem dúvida é seu melhor filme e o de maior bilheteria do ator. Particularmente achei que dali por diante, ele estaria em produções melhores. Não foi o que aconteceu, porém. O filme foi baseado em uma história em quadrinhos, dividida em 3 partes e lançada pela Dark House Comics em 1992. O título das histórias era: "Timecop - a Man Out of Time" - "Timecop - um homem fora do tempo"...
A história dos quadrinhos e a história que vemos no cinema são diferentes. Nos quadrinhos, o policial Walker tem a missão de recuperar um viajante ilegal do tempo, cujo objetivo era roubar um enorme diamante de uma mina africana. Este viajante levou consigo um robô/assassino para segurança. Walker traz Parker (o ilegal), mas deixa o robô. Isto acaba afetando o tempo e Walker é obrigado a retornar para impedir o furioso robô...
Já no filme, Walker descobre em uma de suas missões que o corrupto senador McComb está por trás de uma série de intervenções no tempo e de roubos realizados então. E é para tentar provar isto que ele fica indo e vindo. Há subtramas, como o assassinato de sua esposa no início do filme por um grupo desconhecido e a posterior descoberta de que ela estava grávida.
Estes dois acontecimentos não são aleatórios, servem para se destacar que há uma regra de não alterar seu próprio passado (e de quebra mostrar o carater de Walker) e também para tentar dar uma surpresa no final do filme...
Ficções científicas com viagens no tempo, na maioria das vezes, são o que há de melhor (na minha opinião). Mas, neste filme acabam estragando a parte final. Há algumas situações, que embora talvez não tenhamos notado quando assistimos a primeira vez, incomodam bastante.
A certa altura, McComb infiltra uma agente sua na polícia do tempo para trabalhar com Walker. Não sabemos se era para matar ou espionar. pois no momento seguinte ela conta segredos para ele (para dar aquele ar de 'companheirismo') e a seguir esta com uma arma apontada para sua cabeça. Neste momento, McComb poderia ter eliminado Walker de vez! Mas, ao invés disto, atira para matar sua agente!?!? E deixa Walker no passado com a intenção de deixá-lo preso...Ora, o cara tem um aparelho de retorno ao futuro!!!
Na mesma cena, um pouco antes, Walker toma um envelope com um pagamento para a versão do passado de McComb e enfia em seu bolso interno...E pelo jeito fica lá para sempre, já que nunca mais se fala nisto!!! Também incomoda que Walker inicie sua viagem no tempo em uma espécie de módulo a jato...que simplesmente desaparece quando ele chega ao destino e volta a aparecer quando retorna à base (nos quadrinhos o módulo sai no destino e é usado para a volta. Caso aconteça algo com ele, há um aparelho corporal).
Depois de ser deixado por McComb, Walker retorna ao futuro e está tudo mudado. McComb está fechando a TEC (policia do tempo) e ninguém se lembra que ele havia voltado para conseguir provas. Nem seu melhor amigo lembra que eram amigos e foi ele quem o convidou a fazer parte da polícia especial?! Ora, se McComb é quem mandava em tudo, por que Walker fazia parte da força policial? (A mudança no passado muda TODA a realidade, então McComb sabia que Walker causaria problemas. Por que deixá-lo entrar???)
Walker convence Matuzac (o tal amigo que o convidou e que não se lembrava de ser seu amigo) a enviá-lo mais uma vez ao passado. Isto custa a vida de Matuzac. McComb irado, reúne um grupo de assassinos para eliminar de vez o policial chato! Aqui temos mais uma incoerência.
O grupo reunido pelo vilão vai ao passado matar Walker em sua casa. O que nos remete ao início do filme quando houve o ataque e a esposa de Walker foi morta. Esta era a reviravolta genial do diretor. Mas, era para McComb SABER que não funcionaria, afinal Walker está dando dor de cabeça para ele desde o início do filme! E TODO MUNDO sabia que sua esposa havia sido assassinada em um ataque... e que ele havia sobrevivido!!!
Várias pessoas que trabalhavam com McComb o faziam por coerção. McComb as ameaçava dizendo que mataria seus pais e elas deixariam de existir...Então, por que não matar OS PAIS de Walker??? Por que mandar fazer um ataque em sua casa, sabendo que irá falhar???
Mas, o final que atrapalha não é o que falamos até agora e sim o posterior ao fim de McComb e o retorno de tudo a normalidade. Na tentativa de resgatar a agente de McComb que o traiu, para que ela testemunhasse sobre seus crimes, Walker voltou ao dia de ataque à sua casa e da morte de sua mulher (claro, precisava de um final feliz!).
Os mesmos que atacam sua casa, matam a agente. Ela estava em um hospital (McComb atirou nela, lembram-se?), lá Walker descobriu que sua esposa estava grávida quando foi assassinada. Diante disto ele viola as regras e parte para ajudar a si mesmo e salvar sua esposa. Mas, antes a procura no shopping onde ela se encontrou com sua versão mais jovem no início do filme e pede que ela conte a sua versão mais jovem sobre a gravidez.
A noite, quando o ataque se inicia, ele ajuda sua outra versão a enfrentar os atacantes. Desta forma, o resultado é diferente do início do filme: sua esposa sobrevive...McComb, por alguma razão, vai junto com sua equipe de assassinos e aparentemente se sairá vitorioso contra Walker. Mas, Walker mostra esperteza chamando a versão mais jovem de McComb para a casa que está para explodir.
McComb ordena que sua versão mais jovem saia, mas Walker a empurra para cima da versão do futuro...Há uma regra que diz que o mesmo corpo não pode habitar o mesmo lugar, ao mesmo tempo, e os dois são amalgamados até se tornarem uma mancha no chão...
Ao meu ver, isto teria que ter causado uma tremenda ondulação na realidade, mas o roteiro 'fechou os olhos' e fez com que tudo, desde o ataque à casa de Walker, fosse UMA alteração temporal. Com o fim de McComb, a realidade foi corrigida e todos os 'do bem' que morreram estavam vivos novamente. Somente Walker lembrava da realidade alterada...
E aí vem, finalmente, o final que atrapalha...Walker volta para a casa e surpresa! Sua casa (antiga) estava reconstruída, sua mulher estava viva e também...seu filho!! Emocionante, ein? Walker fica surpreso ao conhecer o filho e ver sua esposa viva (o que é de se estranhar, já que ele a tirou da casa ANTES da explosão. Embora McComb tivesse atirado nela, ela estava viva).
O problema é que sua esposa lhe pergunta como foi o dia de trabalho. Isto significa que uma versão dele TEM de ter vivido todo este tempo com sua esposa e seu filho. Uma versão dele, havia saído de casa NAQUELA manhã! Tanto a esposa quanto o filho têm lembranças de anos com ele, mas ele não as tem! O que houve com sua outra versão ou com as memórias deste tempo (10 anos)?
E mais: sua esposa havia visto e ajudado sua versão mais velha no dia do ataque. Então, ela tinha de saber que em algum momento ele voltaria lá. E como ele estava agindo de forma diferente, ela devia ter concluído que aquele era o dia! No entanto, lhe pergunta se há algo errado...
Apesar de tudo o que escrevi até agora, volto a dizer que este é o melhor filme com Van Damme. Deu tão certo que ele voltou a trabalhar com o mesmo diretor em outro bom filme: "Morte Subita". Alguém sugeriu que fosse uma continuação de "Timecop", mas o diretor negou alegando que não cabia uma continuação (o que eu concordo, embora outro diretor e outro ator tenham feito uma)...
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