Papo de Cinema | "ELES ME CHAMAM MISTER TIBBS!" - TRILOGIA COM SIDNEY POITIER

 Provavelmente muitos não reconheceram o ator SIDNEY POITIER na ilustração da nossa matéria. Para facilitar a compreensão, ele era o equivalente a Denzel Washington. Em 1967 ele foi convidado a interpretar o personagem "MISTER TIBBS" em um filme que se tornou um marco do cinema mundial e que deu a Poitier algo inédito em sua carreira...Nossa matéria fala sobre tudo isto! Vamos lá???





Já fiz uma postagem anteriormente falando sobre Sidney Poitier, onde destaquei um aspecto de sua atuação: ele tinha um brilho no olhar, uma espécie de raiva contida, quando representava papéis que envolviam o racismo de alguma forma ou quando era um rebelde de alguma espécie. Dava a impressão de estar se contendo, de ser indomável, de não ceder...Talvez por isto tenha sido a primeira escolha para o papel marcante que fez em 1967: o detetive de homicídios Virgil Tibbs


O detetive Vigil Tibbs, nasceu nas páginas do romance: "No Calor da Noite", escrito em 1965 por John Ball. O livro tratava de um assunto 'espinhoso' tanto na época quanto agora: o racismo. Ball acabou ganhando um prêmio com o lançamento do livro, o Prêmio Edgard de Melhor Primeiro Romance




Obviamente a soma de tais fatos (livro de sucesso + assunto 'espinhoso' + prêmio de literatura), não poderiam ser ignorados pelos produtores de cinema e de TV e nasceu não só o primeiro filme, mas também uma série para a TV. 


"NO CALOR DA NOITE" - CHEGA AOS CINEMAS...




É claro que para protagonizar um filme com um assunto tão 'delicado', especialmente na década de 60, seriam necessários dois atores 'de peso'. Mas, isto já estava resolvido. Desde o começo a escolha já havia sido Sidney Poitier e Rod Steiger, que conforme consta eram amigos na vida real e aguardavam uma chance de trabalharem juntos. 




E a escolha se mostrou correta, a interação entre os dois foi perfeita. Poitier com aquela aparente fúria contida no olhar e Steiger irritante, com todo o racismo mal disfarçado de seu personagem, teve como resultado um filme com uma visão crua e realista que mostra uma cidade do sul que parecia odiar mais a si mesma, do que aos forasteiros. Mostrava o clima incerto da época, com o movimento de direitos civis tentando se firmar e os conflitos prontos a explodir a qualquer momento. 


Assim como o livro, o filme também foi premiado. Recebeu 7 indicações para o Oscar, vencendo como Melhor Filme e o de Melhor Ator (reflexo dos tempos, não foi Sidney Poitier o indicado...); e mais 13 entidades ligadas ao cinema. A trilha sonora de Quincy Jones foi indicada para o Grammy Awards


Na história do filme o rico industrial Phillip Colbert é encontrado pelo policial Sam Wood à noite, assassinado e caído na rua. O policial vai até a estação de trem, onde encontra Virgil Tibbs, um homem negro e com uma carteira recheada e imediatamente o prende (sem permitir que se identifique). 


O chefe de policia Bill Gillespie (Rod Steiger), o acusa de assassinato, mas logo descobre que ele é na verdade um importante detetive de homicídios da Filadélfia, que passava pela cidade após visitar sua mãe...Ao ser libertado, Tibbs quer partir imediatamente (não é de se admirar com todo o racismo evidente), porém seu chefe sugere que fique e ajude nas investigações (afinal o filme tinha de acontecer...). 


Muito contra a vontade, Tibbs aceita e consente em trabalhar com Gillespie, que ao seu lado também não tem a menor vontade de tê-lo como parceiro. Durante a investigação, presenciamos ao vivo e a cores, toda a cidade (incluindo os policiais) destilando todo seu ódio por Tibbs...ao mesmo tempo somos brindados com o show de interpretação dos dois atores...


Duas situações dentro do filme acabaram por torná-lo inesquecível. Uma delas envolve uma frase que ficou bastante famosa e esteve entre as 16 frases mais icônicas do cinema. Na cena Gillespie zomba de Tibbs por causa de seu nome 'Virgil', dizendo: "Esse é um nome engraçado para um 'garoto negro' que vem da Filadélfia! Como eles te chamam lá em cima (no norte)?". (Grifamos o termo 'garoto negro', "nigger boy", por ser usado pejorativamente pelos brancos americanos, ao falar com os negros...)




Irritado com o policial, Tibbs responde (com os olhos faiscando!): "Eles me chamam de SENHOR (Mister) Tibbs!"...Esta resposta entrou para o "American Film Institute's 100 Years...100 Movies Quotes", uma lista das principais citações de filmes. A citação acabou sendo também o titulo da sequência do filme lançada em 1970...


Outra cena impactante no filme e que inclusive preocupou os produtores, envolve um tapa no rosto recebido por Tibbs quando interroga o ricaço suspeito Endicott. Sem pestanejar, Tibbs responde de imediato esbofeteando-o também. Esta cena existe por insistência de Poitier e acabou se tornando marcante! 





Reza a lenda que Poitier e Steiger foram escondidos a sala de cinema e sentaram-se ao fundo fazendo um jogo de "negro' e "branco". Quando chegava a cena acima e alguém na plateia reagia com: "Yeah!" ou "Yes!", os dois diziam: "é negro!", Quando, a reação era: "Oh, my god" ou "Ohh!", diziam "é branco!"...


MISTER TIBBS - A FRANQUIA...


Com a reação do publico e a consequente bilheteria, obviamente os produtores se interessaram em fazer uma sequência do filme. Seria a primeira vez que Poitier se envolveria em uma  continuação. A produção foi de 1970, e o escritor John Ball já havia lançado mais três livros com o personagem. 


Por ser um filme da década de 70, o filme tem uma abordagem um pouco mais violenta do que o filme anterior de 1967. Não havia como repetir as questões racistas da mesma forma, assim houve a adequação aos novos rumos do cinema: a violência. Podemos notar isto no trailer que anexamos logo abaixo: 




O titulo original do filme é "Eles Me Chamam Mister Tibbs", pois para as distribuidoras americanas a citação faria um 'link' ao primeiro filme. Já no Brasil se pensou diferente, aparentemente alguém achou que como o primeiro se chamou "No calor da NOITE", para ligar os filmes o titulo deveria ter alguma palavra em comum, Assim o titulo ficou: "NOITE sem fim"...


Na história o detetive Tibbs, investiga o assassinato de uma prostituta e o principal suspeito é um reverendo local, muito respeitado na comunidade e com contatos no 'alto escalão' (roteiro clássico da década de 70). 


Em 1971 foi  produzido o ultimo filme da trilogia "Mister Tibbs", desta vez o filme se chamava "A Organização" e colocava o detetive Tibbs em caça de uma gangue de revolucionários urbanos. Este filme teve uma má recepção pelos críticos e pelo publico, que o acharam difícil de acreditar e sem novidades para o público...


Podemos notar pelo próprio trailer do filme, que a essência de Tibbs foi abandonada no filme anterior...





Foi a primeira vez  e a última em que Sidney Poitier fez parte de uma trilogia. Ele só voltaria a fazer uma continuação muitos anos depois e foi do filme "Ao Mestre Com Carinho", uma produção para a TV  de 1995. Por volta de 1977, Poitier resolveu trocar de posição nos filmes tornando-se diretor. Por esta razão ele apareceu pouco nas telas, principalmente por ter-se tornado em 1997 diplomata de Bahamas no Japão e junto á UNESCO...


Uma ultima curiosidade: Sidney Poitier serviu de base para a aparência do personagem Lanterna Verde John  Stewart da DC  Comics...





BÔNUS...


Logo abaixo estamos anexando links para o caso de vocês desejarem assistir a algum filme da trilogia ou a todos. Porém alertamos que o video só abrirá com o uso de REDE WI-FI! O motivo é simples: as OPERADORAS bloqueiam o site hospedeiro! Basta clicar no titulo desejado...


No Calor da Noite - 1967 (legendado)


Eles Me Chamam Mister Tibbs (Noite Sem Fim) - 1970 (legendado)


A Organização - 1971 (legendado) 



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