Conversa de Cinema: CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ (Sky Captain and the World of Tomorrow, 2004)


Escrever sobre o CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ (Sky Captain and the World of Tomorrow, 2004) acabou sendo uma experiência singular. Logo ao começar a pesquisar sobre as opiniões referentes a este filme me deparei com palavras do tipo:" Terrível! Horrível! Péssimo!" fora as de baixo calão. Claro que encontrei grandes elogios e palavras até de exaltação a este peculiar longa metragem. O interessante é que realmente só vim a ter contato com este filme no ano seguinte quando chegou as locadoras (na época eu era dono de locadora) e o que percebi enquanto locador parece ser uma realidade de amplo espectro. Ou seja, é um filme para poucos e mesmo estes, em sua maioria serão os curiosos, saudosistas ou fãs de "TRASH" movies (Não que este seja um destes filmes, mas por ser exótico sempre agradou a este grupo). Dito isso, é bom registrar que gosto e só lamento não tê-lo assistido nas telonas. Outra dificuldade foi encontrar o filme completo disponível na internet. Algo que só consegui graças aos amigos que partilham destes gostos por pérolas criativas. (A estes o meu: MUITO OBRIGADO!)

O longa-metragem de estréia do diretor Kerry Conran, um Sci-fi retrô é o resultado de quase uma década de sonhos, pesquisas e muita dedicação. Apesar de ser um profissional iniciante Conran impressionou os produtores hollywoodiano ao propor a utilização de uma técnica inédita e de baixo custo. Nada do que é mostrado na telona, além dos atores, é de verdade. Todas as cenas foram rodadas, uma a uma, somente com o elenco em frente a um cenário cru: uma tela azul gigantesca (blue screen). Todo o resto, desde os cenários até os elementos cênicos, como por exemplo uma mesa de escritório, foram inseridos posteriormente através de computação gráfica. Esta técnica propiciou ao diretor trabalhar com economia (o longa custou  US$ 40 milhões) e curto prazo (as filmagens com os atores duraram bem menos de um mês). Porém, o longa arrecadou somente US$ 37 milhões se tornando um dos grandes fracassos da indústria cinematográfica americana.

SKY CAPTAIN AND THE WORLD OF TOMORROW • EUA • 2004
Direção de Kerry Conran • Roteiro de Kerry Conran
Elenco: Jude Law, Gwyneth Paltrow, Giovanni Ribisi, Michael Gambon, Bai Ling e Angelina Jolie.
107 min. • Distribuição: Paramount Pictures.

SINOPSE: Nova York, final dos anos 1930. A repórter Polly Perkins (Gwyneth Paltrow) descobre que os cientistas mais famosos do mundo estão desaparecendo. Após a cidade ser atacada por imensos robôs voadores, ela resolve pedir ajuda ao piloto e aventureiro ­ e seu antigo namorado ­ Joseph "Capitão Sky" Sullivan (Jude Law) e Dex (Giovanni Ribisi), o fiel ajudante dele. A missão principal do grupo é localizar o megalomaníaco doutor Totenkopf (Laurence Olivier), que está escondido em algum lugar do Nepal e planeja destruir o mundo.

Consta que tudo começou quando Kevin Conran (irmão do diretor) convidou um amigo de sua esposa e a única pessoa na indústria do cinema que ele conhecia, Marsha Oglesby , para dar uma olhada em um curta produzido por Kerry. A estratégia deu certo e Oglesby, profundamente impressionada com seu trabalho, imediatamente os encaminhou ao produtor Jon Avnet (Negócio Arriscado,1983; Tomates Verdes Fritos,1991), que concordou em financiar seu projeto, com Kerry dirigindo e escrevendo o roteiro. Agora armado com um estúdio, uma equipe de mais de 100 animadores e um elenco de atores de primeira linha ( Jude Law , Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie, entre outros, todos os quais assinaram imediatamente após ver um curta de 6 minutos). E foi assim que Kerry foi capaz de completar seu projeto, "Capitão Sky e o Mundo de Amanhã" (2004), o primeiro filme inteiramente rodado em tela azul. O filme, embora não seja um sucesso de bilheteria, foi um sucesso relativo entre os críticos, algo impressionante para um novato sem grande experiência em escrever ou dirigir. Contudo, após a conclusão deste projeto Conran não foi creditado a nenhuma outra produção hollywoodiana. Há indícios de que chegou a ser considerado para dirigir a adaptação de tela de John Carter em Marte (continuação prometida de John Carter entre dois mundos), depois que Robert Rodriguez desistiu, mas acabou substituído por John Favreau, que por sua vez foi substituído por Andrew Stanton. Kerry e Jude Law também expressaram interesse em transformar "Capitão Sky" em uma franquia, mas devido ao fracasso do filme nas bilheterias, não houve notícias de quaisquer sequências ou prequels. 


Uma nerdice muito legal está logo nos créditos iniciais, que trás a impressão de ser uma produção da década de 40 – com uma ressalva para efeitos de som, emprestados do clássico A Guerra dos Mundos (1953) e dos desenhos animados de ação da Hanna-Barbera. Durante a projeção, é possível reconhecer objetos que poderão causar o delírio de alguns intusiastas, por exemplo o S. S. Venture, navio de King Kong; a espada de Excalibur; os robôs dos clássicos gibis do Superman; HQs do Buck Rogers; cenas (e situações emprestadas) de O Mágico de Oz e o próprio Titanic no fundo do mar. 

CURIOSIDADES:
  • Os primeiros robôs mecânicos que atacam Nova York em Capitão Sky e o Mundo de Amanhã são praticamente idênticos aos monstros que o Superman da animação da Fleischer Studios enfrenta no episódio: "Mechanical Monsters" (1941).
  • Originalmente, o título deste longa era só O Mundo de Amanhã (The World of Tomorrow), mas Kerry Conran optou por alterar o título para não confundir os espectadores com O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow), de Roland Emmerich, aquele da onda gigante em Nova York e da era do gelo (estou relembrando trechos porque eu mesmo sou um que já esqueceu aquele filmeco).
  • Kerry Conran usou um computador Macintosh caseiro para desenvolver seis minutos de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã. Este processo durou 4 anos. Quando Conran apresentou estes seis minutos ao produtor Jon Avnet, conseguiu financiamento na mesma hora para concluir o projeto. A coisa deslanchou de vez quando Jude Law viu o preview de seis minutos e se apaixonou pelo projeto, tirando dinheiro do próprio bolso para viabilizar o filme.
  • Gwyneth Paltrow assinou contrato para viver a repórter Polly Perkins sem ler um trecho sequer do roteiro. Bastou assistir ao curta de seis minutos. Olhando por esse lado, seria melhor que este curta nunca tivesse chegado ao seu conhecimento!
  • As cenas da militar Franky Cook, interpretada por Angelina Jolie, foram rodadas em apenas dois dias e meio. Isso é que é ganhar dinheiro fácil.
  • Numa determinada cena, Polly Perkins está ao telefone, relatando a invasão dos robôs gigantes ao seu editor (Michael Gambon). Sua fala é exatamente assim: “Eles estão atravessando a 6.ª Avenida… Eles estão atravessando a 5.ª Avenida… Eles estão a 100 metros de mim!”. Esta fala é uma reprodução exata da mesma fala que apavorou os EUA na radionovela A Guerra dos Mundos, de 1938, em que o ator Ray Collins narrava a chegada dos Marcianos. Para quem não sabe, a radionovela causou um caos sem precedentes nos Estados Unidos à época: como o programa era narrado como uma espécie de noticiário e este tipo de narrativa era praticamente inédita no campo da ficção, grande parte da população realmente acreditou que o planeta Terra sofria uma invasão de alienígenas assassinos.
  • Uma seqüência de cenas ao início de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã mostra a primeira página dos principais jornais do mundo, relatando a primeira invasão das máquinas. Numa referência hilariante, a primeira página de um jornal de Tokyo tem estampada uma foto em que os robôs estão enfrentando… Godzilla.
  • Inicialmente o filme seria apenas um curta-metragem de 6 minutos, que mostraria o ataque dos robôs gigantes voadores à cidade de Nova York. Após a entrada de Jon Avnet como um dos produtores é que se decidiu por transformar o projeto em um longa-metragem. Avnet ficou tão impressionado com o trabalho que vinha sendo feito que convenceu o diretor Kerry Conran a fazer a mudança.
  • Kerry Conran não foi nem uma única vez a Nova York durante o processo de filmagens, e também nunca tinha ido à cidade antes. O diretor recriou Nova York se baseando em antigas fotos da cidade. 
  • Para que o processo de edição tivesse uma maior flexibilidade, o diretor Kerry Conran filmou individualmente cada um dos centenas de extras do filme. Desta forma ele poderia manipular a presença dos extras da forma que quisesse, sem precisar rodar novamente a cena por completa.
Bem, não vou dizer aqui, apesar de eu ter gostado, que Capitão Sky e o Mundo de Amanhã é um excelente filme e que deve ser assistido por todo cinéfilo, mas é inegável que é uma produção elaborada e muito curiosa e um bom passatempo. Infelizmente, é um filme para ser visto no cinema, onde é possível se apreciar os detalhes desta exótica obra.


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