Mercenário - Anatomia de um Assassino

Esta HQ escrita por Daniel Way e ilustrada pelo saudoso Steve Dillon e publicada em 2004 pretendia ser a origem definitiva do nêmesis do Demolidor, o Mercenário. Ao contrário de outros heróis, o Homem Sem Medo não teve um arqui-inimigo definitivo logo de início. Nos anos 60, o grande vilão do herói foi o Coruja; posteriormente, nos anos 70, surgiu o Mercenário, que logo foi alçado à posição de inimigo mais mortífero do Demolidor, um assassino nato, capaz de matar com qualquer coisa em suas mãos. Nos anos 80, durante a fase de Frank Miller, o Rei do Crime, antes um vilão da galeria do Homem-Aranha, tornou-se o maior oponente do Homem Sem Medo, posição que mantém até hoje.

No entanto, o Mercenário também sempre esteve presente para afligir o Demolidor e lhe causar dor, pois foi o responsável por assassinar Elektra e Karen Page, os dois maiores amores da vida do herói. Frank Miller transformou o Mercenário em um psicopata, uma espécie de Coringa do Demolidor.


No enredo desta HQ, o Mercenário foi feito prisioneiro em uma prisão secreta e de segurança máxima e deve ser interrogado por dois agentes da Agência de Segurança Nacional, Hoskins e Baldry, para que se descubra onde o Mercenário escondeu duas bombas de plutônio. Hoskins é o típico agente durão, que tem contas a acertar com o vilão, que assassinou todos os seus subordinados; Baldry é um especialista em interrogatórios. Nessa história, o Mercenário é caracterizado como uma espécie de Hannibal Lecter, que manipula a todos e está exatamente onde quer, para cumprir um objetivo. E o vilão está com um visual que lembra a versão do Collin Ferrel no filme do Demolidor de Ben Affleck, calvo e com o símbolo de alvo talhado na testa. Esse visual foi incorporado às HQs posteriormente.

Instigado por Baldry, o Mercenário conta sua história de vida desde a infância, e há aquele plot já batido de que seu pai matratava sua mãe e agredia a ele e a seu irmão. E ficamos sabendo do verdadeiro nome do Mercenário, que é Leonard Nate. Por muitos anos, ele usou o nome Poindexter como alcunha civil e na fase do Demolidor de Brian Michael Bendis foi chamado de Lester. Mercenário então revela que seu irmão botou fogo no apartamento e assassinou seu pai. Após isso, o vilão relata outros fatos da sua vida, como quando foi adotado e tentou ser jogador de beisebol profissional, e também como assassinou um homem por esporte em um jogo.

Sendo um psicopata em formação, o Mercenário é contratado pela ASN como assassino e agente para fazer serviços sujos e é enviado para a Nicarágua, onde toma posse de uma operação de drogas e tem um confronto com o Justiceiro em início de carreira, e faz Frank Castle de gato e sapato. É óbvio que o Mercenário é o típico narrador não confiável, mas o roteiro da HQ não esconde muito o que é verdade e o que é mentira em seu relato. O vilão ainda faz uma retrospectiva de seus primeiros confrontos com o Demolidor e de quando assassinou Elektra, com grande satisfação, e ainda expõe uma teoria da conspiração, de que a ASN foi a responsável pela ascensão de Wilson Fisk a Rei do Crime e que outros heróis, como o próprio Demolidor e a Viúva Negra, seriam "agentes" da ASN.


Daniel Way sempre foi um roteirista mediano para fraco, mas essa HQ do Mercenário, creio que é um de seus trabalhos mais regulares. Entretanto, o que melhora muito a história é a arte de Steve Dillon, que era muito bom em desenhar personagens mais desvirtuados e amorais, como o próprio Mercenário, e que caiu muito bem nesse tipo de história. A questão é que essa HQ ao fim pode ser classificada como um tanto "solta" na cronologia. Não há muitas repercussões dela nas histórias posteriores do Demolidor, nem mesmo citações sobre o passado do Mercenário ou o tempo em que ficou preso na instalação de segurança máxima. Ao final da HQ, o enredo torna-se previsível, com a revelação de que o Mercenário manipulou tudo e todos para ser capturado e posto na mesma prisão em que seu pai estava, para enfim poder ter seu ajuste de contas.

Em suma, Mercenário – Anatomia de um Assassino é uma história divertida, que mostra o Mercenário como o vilão sádico e carismático que é, mas que depois pode ser esquecida, pois nunca mais foi referida nas histórias do Demolidor ou da Marvel em geral. Entretanto, é sim um bom entretenimento e creio que vale a leitura. Nota 7 de 10.




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