Memória em Quadrinhos | SPECTREMAN - mangá - volume 1 (nostalgia pura) - Review
Spectreman, tal como Ultraman, sempre enfrentava o monstro da semana (na verdade, o monstro da quinzena, uma vez que os episódios eram divididos em duas partes), mas os monstros que Ultraman enfrentava eram monstros alienígenas que vinham do espaço, enquanto Spectreman lutava contra monstros gigantes criado pelo Doutor Gori com a ajuda da poluição. Na série e no mangá, a despeito de o objetivo principal ser o de entreter, também aproveitavam para fazer crítica social, sobretudo críticas ambientais. Isso é até mais importante destacar quando se leva em conta que o Japão teve um acelerado desenvolvimento industrial no pós-guerra.
Entretanto, esse tipo de crítica social e ambiental não é algo muito alheio a obras da cultura pop japonesa. Talvez pelo trauma da bomba atômica, há várias ponderações sobre como a ciência pode ser aterrorizante e que o homem tenta dominar a natureza. Em algumas versões do Godzilla, por exemplo, o monstro foi criado pela radiação atômica.
Obviamente, outra grande influência, tanto para Spectreman quanto para Ultraman, foi o Superman. Inclusive, em uma das passagens do mangá, Minnie, a namorada da identidade civil de Spectreman, Jouji Gamou, menciona que Spectreman "voa como o Superman". É até possível fazer um paralelo e dizer que Ultraman seria o Superman e Spectreman, o Capitão Marvel. No entanto, ao contrário da DC Comics, a Tsuburaya aparentemente não liga muito para as cópias do Ultraman e nunca quis processar a produtora de Spectreman.
A identidade secreta do herói é Jouji Gamou, um funcionário da equipe de combate à poluição de Tóquio, porém, na realidade, ele na verdade é um ciborgue enviado do planeta Nebula 71 pelos Dominantes para combater o Doutor Gori e seu braço direito, Lars (na série, Karras).
Vale dizer que já houve HQs de Spectreman no Brasil, mas eram feitas por artistas nacionais. A Pipoca e Nanquim enfim trouxe o mangá original de Spectreman, made in Japan. O mangá é escrito por Souji Ushio e desenhado por Daiji Kazumine, que tem um traço até que bem detalhado para o estilo de arte de mangá da época. Foi publicado em 1971, concomitante à série de TV.
No mangá, há alguns momentos de crítica social, como quando Gori defende que a conquista é algo natural na história humana e que o forte sempre domina o fraco, ou quando o vilão diz que está salvando o planeta Terra dos humanos, que destroem seus recursos com a poluição. Em outra história, Gamou surpreende-se como as pessoas ficam alheias à possibilidade de um terremoto realmente acontecer.
Em suma, Spectreman é um mangá que vale pela nostalgia; porém, não sei o recomendo para leitores mais jovens, que não conhecem nem têm a mesma memória afetiva que o pessoal da minha geração tem pelo personagem. Tenho mais de 40 anos e assistia a Spectreman no SBT. Imagina quem assistia na Record, deve estar beirando os 50. Ou seja, o público-alvo desse mangá é composto por homens de meia idade. A despeito disso, não é impeditivo de os mais jovens lerem e apreciarem o mangá. Há muitos leitores de mangás antigos que são jovens. O roteiro e a arte, no entanto, seguem um formato bem diferente dos mangás atuais. O preço também pode ser um obstáculo. Como tudo da Pipoca e Nanquim, é caro, custando mais de R$ 70,00. No entanto, scans estão por aí para isso. Nota 7,5 de 10.
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