Memória em Quadrinhos | A PRIMEIRA "MORTE" DO SUPERMAN
Em 1992, um evento de grandes proporções abalou o mundo dos quadrinhos, a morte do Superman, que gerou grande impacto na mídia não especializada em HQs e também bateu recordes de vendas, chegando a vender mais de seis milhões de exemplares (está certo que foi na época da bolha especulativa dos quadrinhos, mas ainda assim...). Foi um imenso sucesso comercial e de marketing, como só o maior dos super-heróis poderia proporcionar. No entanto, essa não foi a primeira “morte” do Superman; em 1962, trinta anos antes, também ocorreu um evento em proporção bem menor, claro, mas que merece ser lembrado.
Tal evento teve palco em Superman no 156, em uma história escrita por Edmond Hamilton e desenhada pelo lendário Curt Swan. No enredo, uma cápsula espacial estava para se chocar com um estranho baú luminoso e esverdeado; ao notar isso, Clark Kent não demora para assumir a identidade de Superman e intervir. Ao notar que o baú era constituído de kriptonita, o herói atira um foguete inativo em cima dele. Por sua vez, Jimmy Olsen aparece e nota uma estranha mensagem escrita em kriptonês. Superman percebe que dentro do baú havia amostras do vírus X, que é letal para kriptonianos; então, ele pega uma enorme pedra e joga em cima do objeto, o destruindo enquanto Jimmy tira uma foto, mas logo depois o Homem de Aço passa a se sentir cansado, fraco e tonto.
Como Superman sempre teve supermemória, ele se lembra de uma conversa que escutou quando era apenas um bebê de seu pai com um cientista, em que eles falavam de o quanto esse vírus era terrível e aparentemente indestrutível. Superman é levado de helicóptero até um médico, e lá o doutor desengana Jimmy e os outros amigos do Superman, Lois Lane, Lana Lang e Perry White, e diz que o herói está cada vez mais fraco, com poderes falhando e que terá apenas um mês de vida. Lois e Lana desesperam-se; não é qualquer um que consegue fazer a atual patroa e a ex se comoverem, mas Superman é o cara. O Homem de Aço escuta a conversa e fica bem melancólico, e assim decide mudar o mundo e ajudar a humanidade antes de partir.
Dessa forma, fazendo uso de seus super-robôs, Superman constrói uma cabine de isolamento de cristal de chumbo, para que não afete sua prima, a Supergirl. Ele então chama a jovem e passa algumas diretrizes para ela, seriam façanhas que ele não teria mais como fazer, mas que ajudariam a humanidade: esse seria o testamento do Superman. Supergirl não tarda para ir para o futuro encontrar a Legião dos Super-Heróis e pedir ajuda a eles. Enquanto Lori Lemaris, outra ex-namorada do Superman e sereia, e os kandorianos prontificam-se a ajudar o Superman nas supertarefas, Brainiac 5, o mais inteligente membro da Legião dos Super-Heróis tem seus próprios pensamentos e passa diligentemente a trabalhar em um experimento.
Uma das supertarefas do Superman, Supergirl dá conta de resolver sozinha. Um enorme planeta desabitado que estava em colisão em direção à Terra em um futuro distante tem seu curso desviado para se chocar com outro mundo desabitado e explode. Na Era de Prata, até a Supergirl, que era bem mais fraca que seu primo, conseguia mover planetas. A outra ameaça é uma nuvem de fungos cósmicos, mas a Legião dos Super-Heróis consegue criar uma superarma magnética e destruir o fungo. Após isso, Supergirl encontra seu crush e colega de equipe, Brainiac 5, que confessa estar pesquisando uma cura para o vírus X, mas que sua pesquisa deu com os burros n’água e ele também estava desenganado. Superman estava condenado!
Abalada pela notícia, Supergirl não se furta a realizar outra das supertarefas, que que é construir um pequeno sol na Antártida, para fazer o gelo derreter e a população humana pudesse povoar o continente um dia, em caso de expansão. Essa tarefa é muito politicamente e ecologicamente incorreta para a atualidade, mas na Era de Prata era aceitável. Enquanto isso, Superman está bem taciturno, se lembrando de sua adolescência com o casal Kent e sua vida como Superboy. Recorda-se também de suas amadas, Lois, Lana e Lyla Lerrol, que conheceu na clássica história Retorno a Kripton. O Homem de Aço também se preocupa em visitar seu parça, Batman, e ter uma última conversa com ele. Engraçado que o Superman cagou para o resto da Liga da Justiça e nem deu bola para Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman etc., só o Batman é que importa. Ao contrário da morte do Superman de 1992, em que praticamente todos os heróis da DC estavam em seu funeral e até alguns vilões, como Darkseid. Superman ainda tem tempo para escrever um recado à humanidade na Lua e até assina com seu nome civil, Clark Kent.
Entrementes, Supergirl e a Legião dos Super-Heróis agem para realizar a última supertarefa, que é aplicar uma fórmula encolhedora em uma criatura marítima que cresceu por conta da radiação. Após isso, Supergirl tem a ideia de voltar ao passado e ir a Kripton, antes de sua destruição, para conseguir falar com o cientista que descobriu o vírus X. No entanto, logo ela fica desenganada ao escutar a conversa do cientista, pois ele vaticina que não existe cura para o vírus, mas usa o elemento 202 para destruir a amostra de vírus, porém esse elemento também é mortal para os kriptonianos. Desolada, Supergirl volta ao século XX.
Ao relatar a história para seu primo, Superman logo acha estranho que ele tenha sido contaminado pelo vírus X, sendo que a amostra já tinha sido destruída. Eis que logo aparece Mon-El, que estava na Zona Negativa, e faz contato telepático com Satúrnia. Ele fala que testemunhou quando um fragmento do baú de kriptonita entrou na câmara de Jimmy Olsen. Era por isso que Superman estava doente. Logo, o Homem de Aço com o auxílio de Supergirl e Kripto apagam seu nome civil de Clark Kent da Lua, pois ele não poderia revelar sua identidade de bandeja assim. E assim o Superman fica aliviado, pois está vivo e com sua identidade secreta preservada da curiosidade de Lois e Lana.
Enfim, fica essa história para a antologia, que revela que a morte sempre ajudou a vender muitos quadrinhos de super-heróis, ainda que seja uma morte fake, bem com a cara da Era de Prata, que tinha muitas capas sensacionalistas. E essa também não foi a última pseudomorte do Superman.
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