Memória Histórica | VITAL BRAZIL (1865 -1950) - "O Apóstolo da Ciência e Benfeitor da Humanidade"

 

Em tempos em que o Brasil ainda engatinhava na ciência, um homem dedicou sua vida a transformar o conhecimento em salvação. Vital Brazil — médico, pesquisador e visionário — foi muito mais que um nome nos livros escolares: foi o pioneiro na criação dos soros antiofídicos que salvam incontáveis vidas e colocaram o país no mapa da ciência mundial.

Nesta edição da MEMÓRIA HISTÓRICA, revisitamos um pouco da trajetória desse brasileiro notável, cuja paixão pela medicina e principalmente pelo próximo, ultrapassou seu tempo e alcançou o mundo. Um legado que merece ser lembrado, celebrado e mantido vivo nas páginas da nossa memória nacional.

Leia o artigo completo e conheça um pouco da vida deste homem notável que transformou veneno em cura e ciência em esperança.

Nascido em Campanha (MG), em 28 de abril de 1865, filho de José Manoel dos Santos Pereira Júnior, um caixeiro viajante, e Mariana Carolina dos Santos, Vital Brazil recebeu um nome peculiar criado por seu pai, que batizava os filhos com sobrenomes ligados ao local de nascimento — daí o seu nome completo ser: “Vital Brazil Mineiro da Campanha”. Primogênito de oito irmãos, iniciou seus estudos em Caldas e, mais tarde, seguiu para São Paulo, onde ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se em 1891.

Recém-formado, mergulhou nos desafios de um Brasil assolado por epidemias. No Serviço de Saúde Pública de São Paulo, percorreu o interior combatendo surtos de febre amarela e peste bubônica. Foi nesse contexto, em regiões rurais de fazendas de café, que testemunhou a tragédia das picadas de cobras, especialmente em trabalhadores sem acesso a tratamento eficaz.

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O ponto de virada veio em 1897, quando ingressou no Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, sob a liderança de Adolfo Lutz, convivendo com nomes como Oswaldo Cruz e Emílio Ribas. Ali, Vital Brazil iniciou suas pesquisas sobre toxinas de serpentes e concebeu uma das maiores descobertas da medicina tropical: o soro antiofídico específico — capaz de neutralizar o veneno conforme a espécie da cobra, uma inovação que revolucionou a soroterapia mundial.

Suas pesquisas resultaram na criação do Instituto Butantan, em São Paulo, do qual foi o primeiro diretor. O trabalho de Vital Brazil logo ultrapassou fronteiras, salvando milhares de vidas e consolidando o Brasil como referência internacional na produção de soros e antivenenos.

Em 3 de julho de 1919, após deixar o Butantan, fundou o Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro, com o apoio do Dr. Raul de Morais Veiga. O novo centro tornou-se símbolo de ciência a serviço da vida — dedicado à pesquisa, ensino e produção de medicamentos e soros — perpetuando o compromisso do cientista com o bem público.

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Por trás do pesquisador incansável, havia também o homem de família. Vital Brazil casou-se em 1892 com Maria da Conceição Philipina de Magalhães, com quem teve doze filhos (oito sobreviveram). Viúvo em 1913, casou-se novamente, em 1920, com Dinah Carneiro Vianna, e teve mais nove filhos. Apesar de sua genialidade, viveu com simplicidade e, ao falecer, deixou à família um legado imensurável — não em bens, mas em contribuição à humanidade.

O Instituto Vital Brazil, posteriormente incorporado ao governo do Estado do Rio de Janeiro, permanece ativo até hoje, como herdeiro vivo da missão de seu fundador. Vital Brazil foi — e continua sendo — um símbolo de dedicação, ética e amor ao próximo. Um nome que transformou o veneno em cura e a ciência em esperança, deixando impressa, para sempre, sua marca luminosa na história do Brasil.

Em 1948, ao ser cognominado Apóstolo da Ciência e Benfeitor da Humanidade, Vital Brazil respondeu: "Não há maior recompensa do que a consciência de ter feito o bem". O cientista morreu aos 85 anos após complicações causadas por diabetes, em 8 de maio de 1950, na cidade de Niterói (RJ).

CURIOSIDADES

  • Seu nome era: "Vital", pois nasceu no dia 28 de abril, dia de São Vital de Milão.
  • O diploma de medicina veio com muito sacrifício: o estudante passava a parte livre do dia trabalhando como professor ou escrivão de polícia para conseguir pagar as contas. O único momento que tinha para estudar era de madrugada — para não dormir, ele mastigava nacos de pão molhado e ficava com os dois pés dentro de uma bacia de água gelada.  Se formou aos 26 anos de idade.
  • Vital Brazil Chegou a trabalhar como ajudante de engenheiro, escrivão, professor particular e condutor de bondes para pagar o curso de medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
  • Em seus anos na universidade, Vital foi aceito como estagiário de José Pereira Rego, o Barão de Lavradio, um médico com grande fama na então capital do país, o Rio de Janeiro. O barão foi um dos precursores do movimento sanitarista no Brasil, que propunha mudanças nas casas e na configuração das cidades para deixar os ambientes mais arejados, além de se preocupar com o impacto do lixo e do esgoto na saúde humana.  
  • Na Exposição Universal de 1904 em St. Louis, nos Estados Unidos, o Instituto Butantan foi a primeira instituição brasileira a ganhar reconhecimento internacional com uma medalha de prata por suas pesquisas pioneiras. 
  • Vital Brazil ajudou os sanitaristas Emílio Ribas e Oswaldo Cruz no combate à varíola, peste bubônica, febre amarela e tifo, e foi chefe da comissão sanitária em Cachoeira, na Bahia, durante epidemia de cólera. O médico chegou a contrair febre amarela duas vezes em suas missões.
  • Além do soro antiofídico, Vital foi responsável pela criação do soro contra picadas de aranhas, tratamento contra picada de escorpiões e soro antitetânico.
  • Em 1899, quando assumiu a direção do Instituto Butantã, em São Paulo (SP), o local era um estábulo de fazenda. E, os médicos trabalhavam no mesmo espaço onde as vacas eram ordenhadas.
  • O Instituto Vital Brazil, criado em 1919, em Niterói, ainda hoje é um dos principais laboratórios epidemiológicos do país. 
  • Vital Brazil era cristão e profundamente religioso. Ele era protestante evangélico, e lia constantemente a Bíblia, refutando as ideias materialistas que muitos médicos defendiam na época. 

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