Papo de Cinema | A EVOLUÇÃO DOS FILMES DE FAROESTE
"Bang-bang"; "faroeste"; "bandido e mocinho"; "filmes de cowboy"; "westerns"...Diferentes pessoas chamavam de diferentes modos o mesmo gênero de filme: os westerns ou, como são mais conhecidos, os faroestes. Embora, claro, a geração atual possa 'torcer o nariz' diante de um destes filmes, ainda existem milhões das gerações passadas que amam o gênero e certamente terão curiosidade em saber como se deu sua evolução. E é exatamente este o assunto de nossa matéria. Venha conosco conhecer um pouco mais sobre sua paixão...
É no mínimo engraçado a geração atual não gostar dos filmes que serviram de base para muitos dos que eles adoram. Quando o filme "Star Wars - Guerra nas Estrelas" foi lançado (falamos aqui do primeiro filme, da primeira trilogia), ele foi descrito pelos criticos e comentadores (não existia internet) como um "faroeste espacial"...
E de fato há muito de faroeste neste filme. O caso mais evidente é o da cena em que Han Solo (Harrison Ford) atira a queima-roupa (e primeiro) no caçador de recompensas Greedo, na cantina (um saloon na verdade) de Mos Eisley (na versão remasterizada a cena foi alterada e Greedo atirou antes. Mas isto foi para ficar 'politicamente correto').
Mais recentemente, o filme "Logan" é a transposição de um antigo filme de faroeste (não creditado) onde a situação é a mesma: um perigoso pistoleiro é apresentado a filha por sua mãe pouco antes dela ser morta, Assim , a contragosto (a principio), ele começa a proteger a menina e levá-la para segurança. Basicamente a história do filme 'Logan', trocando-se os bandidos e índios por mutantes e agentes do governo...
Embora os filmes de faroeste apresentem histórias diferentes, como nos demais gêneros, eles compartilham um conjunto específico de elementos. Estes elementos eram concebidos para refletir os valores americanos na nova fronteira. Se alguém não familiarizado com a cultura americana quiser aprender sobre o folclore da nação, estes filmes são um bom começo...Claro que há muito 'floreio' e 'romantização' sobre a superfície, mas olhando-se mais atentamente, todos refletiam tais valores, que ainda perduram e que nem sempre foram admiráveis...
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Inicialmente, os protagonistas eram apenas homens brancos machistas, mas isto mudou com o tempo, diante da visão de alguns diretores que expandiram os objetivos do faroeste. Por exemplo, em 2012, o filme "Django Livre" de Quentin Tarantino tem como protagonista Jamie Fox como um escravo liberto que virou um pistoleiro..
O que começou como um gênero que consistia basicamente em aventuras heroicas, para salvar garotas bonitas em perigo diante de bandidos, agora varia de autocrítica até base para ficção científica, como vimos no início do artigo. Assim, podemos dividir o faroeste em três eras diferentes por período de tempo: faroeste clássico, faroeste revisionista e neo-westerns (novo faroeste)...
O FAROESTE CLÁSSICO
"O Grande Roubo do Trem" - filme de 1903 e que é considerado o primeiro filme de faroeste realizado (embora existam alguns ingleses requisitando o título para um filme fajuto que descobriram e que é anterior). Mas, apesar de fazer sucesso com uma cena simples (o personagem aponta a arma para a câmera e atira, gerando pânico entre a assistência...), não consagrou o gênero. isto ocorreu ao longo da década de 1930...
Os filmes desta época eram basicamente "filmes B" (de baixo orçamento). Nesta década os EUA enfrentavam a Grande Depressão, para conseguir sobreviver, as produtoras começaram a exibir dois filmes pelo preço de um. E a coisa funcionou! Este período foi posteriormente chamado de "Era de Ouro de Hollywood". Assim, o filme "B" mais barato era exibido antes e o filme principal, e mais aguardado, era exibido logo depois...
Mas o faroeste clássico só nasceu em 1939, com o filme "No Tempo das Diligências", estrelado por John Wayne. Curiosamente, Wayne não gosta de falar sobre os filmes que fez antes deste clássico, alegando que "não eram filmes". Porém, foram realizados durante a tal "era de ouro"! "No Tempo das Diligências", ostentava uma bela cinematografia e diálogos e assim se tornou o arquétipo (modelo) para a maioria dos faroestes produzidos nas décadas de 1940 e 1950! Também foi responsável por dar início às carreiras de John Wayne como ator e a de John Ford como diretor!
O faroeste clássico era caracterizado pelo herói cowboy, que tomava as rédeas das coisas para salvar a sociedade. Claro que estes filmes não eram exatamente precisos, especialmente no que dizia respeito aos nativos americanos. Estes eram sempre retratados como os instigadores de perigo, enquanto os cowboys eram mostrados como salvadores dos indefesos colonos brancos... O ponto verdadeiro de muitos filmes é que o oeste era uma região sem lei, onde o governo não alcançava, por isso muitos destes cowboys serviam de 'pacificadores' levando a lei a tais lugares, geralmente pela força do Colt...
FAROESTE REVISIONISTA
O gênero faroeste não se ateve apenas ao cinema, ele invadiu também as telas de TV. A massificação do gênero acabou por fazê-lo perder a força em meados da década de 60 (apenas nos cinemas, na TV ainda era muito forte). Isto coincide com o início do período chamado de 'Guerra Fria', e a visão dos americanos sobre si mesmos mudou. O faroeste também teve de mudar...
Justamente nesta época, começaram a aparecer os posteriormente chamados 'spaghetti westerns', que tinham um estilo diferente. Sergio Leone viu uma oportunidade de 'pegar' uma carona nesta mudança do gênero e apresentou a chamada 'Trilogia dos Dolares', estrelada pelo ator Clint Eastwood, até então conhecido apenas pela série de TV: "Couro Cru". A trilogia era composta pelos filmes: "Por um Punhado de Dólares" (1964); "Por Alguns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens em Conflito", também conhecido como "O Bom, O Mau, O Feio" (1966).
Leone trazia uma estética radicalmente diferente dos americanos: cenas lentas e cheias de suspense; close-ups destacando expressões faciais e, em especial, os olhos (inspirados no estilo japonês); e o melhor de tudo, a trilha sonora! Particularmente não gosto da 'coisa' dos closes e também não gosto da trilogia (e a mania de manter o barulho do vento ao fundo - embora talvez fosse assim no oeste...). Mas a trilha sonora de Ennio Moricone é imbatível!
Embora muitos dos amantes de faroestes repudiem o 'faroeste spaghetti', foi ele que deu uma sobrevida ao gênero e permitiu que muitos atores se tornassem famosos (que o diga Eastwood). Quando se assiste a um faroeste da década de 50 e a um da década de 70, vemos quão diferente o gênero se tornou...em parte graças ao faroeste spaghetti...
NEO-WESTERN (NEO-FAROESTE ou NOVO FAROESTE)
Há muitas reclamações por parte dos fãs de faroestes com relação aos novos filmes do gênero. Alguns reclamam do enredo fraco, outros da quantidade de filmes. Mas, é preciso ter em mente que um filme que funcionava em 1950/1960/1970, não tem lugar atualmente na era do 'politicamente correto'. Uma era em que as pessoas vão assistir a um filme em busca de críticas sociais e agendas políticas...
Filmes que colocavam os indígenas como sanguinários e irracionais, que atacavam os pobres colonos brancos (que eram obrigados a se defender, matando todos); ou filmes onde os mexicanos eram ediondos, ladrões, preguiçosos, desonestos e assassinos, também não têm vez! Os atuais filmes de faroestes são propositalmente diferentes dos clássicos, muitas vezes para expor uma falha moral!
Tomem por exemplo o filme dirigido e estrelado por Clint Eastwood em 1992, "OS IMPERDOÁVEIS". Ele é considerado "um comentário inovador sobre a glorificação da violência". A violência mostrada neste filme é desagradável, perturbadora de se assistir. Um contraste chocante com a matança indiscriminada e impiedosa que havia nos filmes de faroeste clássicos. Curiosamente, John Wayne disse que jamais trabalharia em um filme de Eastwood, por "ser muito violento" e por isso "não era um faroeste de verdade"...
Mas, isto não significa que todo faroeste novo traga alguma crítica. O filme "DJANGO LIVRE" de Tarantino, lançado em 2012, é claramente influenciado por Sergio Leone. Tarantino inclusive declarou que a Trilogia dos Dólares era "a maior conquista da história do cinema"...
Em resposta a aqueles que reclamam das poucas produções do gênero (e as que surgem têm qualidade duvidosa), podemos dizer apenas o seguinte: numa época em que muitas pessoas generalizam o gênero dizendo que "é uma celebração do fato de homens brancos governarem a América", não há como o faroeste voltar a ter relevância ou alguma importância.
Estas pessoas não percebem que à medida que o faroeste evoluía desde a era do 'cowboy vs indígenas', o gênero perdeu a maioria - senão todas - as ideias insolentes e chauvinistas que antes carregava...
Ironicamente, este fato é o que afasta boa parte dos antigos fãs, das novas produções...
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