PAPO DE CINEMA - "TRINITY" MUDA O CINEMA ITALIANO E INTRODUZ O "FAROESTE FAGIOLI"...

 Qualquer um que fizer parte de algum grupo de apreciadores de faroestes sabe, que SEMPRE há alguns que odeiam o faroeste italiano. Mas, curiosamente, não apresentam restrições quando se trata dos filmes do personagem 'TRINITY'. Nossa matéria conta sua criação, as mudanças no personagem, como ele revolucionou o cinema italiano e introduziu o "western fagioli". Te convidamos a ler! Vamos lá!?!?





Muitos que não gostam do chamado "western spaghetti", costumam justificar com detalhes sem importância real. Por exemplo, alguns dizem que os tiros nunca acabam. Porém, já experimentou assistir "Rastros de Ódio" e contar quantos tiros John Wayne dá com uma pistola que só carrega 5 balas? Já se perguntou por que o soldado atira em um índio e mata dois? Ou por que todos os tiros no herói são de raspão? 


Particularmente não gosto é da estética. Os excessivos closes no rosto e especialmente nos olhos (depois de Leone); o barulho do vento na planície que nunca para; a mania de manter o chapéu cobrindo o rosto, que vai subindo aos poucos até os olhos...coisas assim. Mas, o que os detratores talvez não saibam é que o western americanos estavam em franca decadência em meados da década de 60 e o spaghetti o salvou. 


O faroeste italiano leva ao extremo aquilo que o americano mostra, por esta razão o 'mocinho' saca e atira 5 vezes sem parar, acerta alvos impossíveis e por isto a violência é muito maior. Os filmes americanos então, abandonaram os romances que conduziam suas histórias e apelaram para a boa e velha vingança, para o 'olho por olho' e ganhou uma sobrevida. 


Contudo o publico italiano começou a achar que os filmes estavam excessivamente violentos e as salas começaram a se esvaziar. Os próprios diretores dos filmes começaram a achar que a coisa estava exagerada e começaram a aparecer aqueles que apresentavam ideias novas...Um deles foi Enzo Barboni, diretor do filme "Meu nome é Trinity"


Segundo o próprio Barboni, ele apresentou a ideia para o filme em 1966, quando era ajudante de fotografia do diretor Sergio Corbucci, nos sets do filme "DJANGO". A principio o produtor teria recusado o roteiro, porém mais tarde, quando havia agendado um filme onde participariam a dupla de atores Terence Hill e Bud Spencer (eles haviam feito 3 filmes juntos e começavam a ficar conhecidos), ele teria lembrado novamente...O produtor em questão era Italo Zingarelli e queria na direção Ferdinando Baldi ("Viva Django!"), como ele não aceitou surgiu a chance de Barboni.


Porém, há uma segunda versão. Segundo outros envolvidos na produção, de fato foi apresentado um roteiro, porém a proposta de Barboni era para um faroeste sério ou meio sério (mais para o irônico). O roteiro foi apresentado ao produtor Manolo Bolognini ("Django"), que estaria de acordo em fazer. Mas, as outras pessoas envolvidas acharam o roteiro tedioso, com muita fala e pouca ação e o projeto minguou...


Quando finalmente Hill e Spencer foram convidados, o roteiro já havia sido reescrito algumas vezes. Hill inclusive declarou ter ficado surpreso por convidarem-no para fazer uma comédia, algo novo para ele. Hill também disse que trabalharia com dois outros atores...O que justificaria o titulo "Trinitá" ("Trinity" - "Trindade"), pois seriam três protagonistas. Quem sugeriu que se reduzisse para duas pessoas e para dois irmãos foi...Bud Spencer! Ele havia notado que o publico reagia bem ao contraste entre ele e Terence Hill e transformando-os em irmãos ainda...


TRINITY É MEU NOME - MUDA O FAROESTE ITALIANO




O primeiro filme de 'Trinity' é frequentemente descrito como: "o filme que destruiu o western spaghetti e salvou a indústria de cinema italiana...". Até mesmo linguisticamente houve mudança, marcando o fim de uma era: os obstinados filmes de faroestes italianos ou 'westerns spaghetti', foram substituídos pelos filmes de 'Trinity' e as inúmeras cópias que gerou e passaram a se chamar: "western fagioli", ou 'faroeste feijão', fazendo referência a obsessão por comida nos filmes de Trinity, em especial o feijão! 




Mas, apesar destes detalhes, o filme é em sua essência um faroeste 'raiz' (como se diz) e com uma história surpreendentemente tradicional: é sobre dois homens que vêm em defesa de pessoas indefesas que são ameaçadas de serem expulsas de suas terras por um barão do gado implacável. A diferença para o padrão americano é que no caso, os dois homens são sujos; não cortam os cabelos; não trocam as roupas; não são educados à mesa ou fora dela e acima de tudo...são bandidos! 


Mas o mais importante mesmo, é o contraste entre os dois irmãos! Ao contrário dos protagonistas dos westerns italianos anteriores, Terence Hill não aparece com aquele rosto taciturno, olhando por debaixo da aba do chapéu, falando pouco e atirando muito. Ao contrário, está sempre com o rosto sorridente (embora sujo) e quase que evita entrar em conflitos armados ou não...


Ai temos Bud Spencer, o personagem Bambino. Ele é o inverso de Trinity: sempre mau humorado; resolve tudo na violência física; não é chegado a conversas e acima de tudo, odeia seu irmão hábil e encantador! 




Todo mundo que assistiu a este filme, sabe que no final há uma briga colossal, onde TODOS os personagens acabam envolvidos. Em uma entrevista para a internet certa vez, Hill declarou que ele e Spencer eram fãs da comédia musical americana: "Sete Noivas  Para Sete Irmãos" (1954). Acontece que este filme tem inúmeras brigas, uma delas em especial é dentro de um celeiro e envolve todos os irmãos. Foi esta cena que serviu de inspiração para a 'luta grupal' do final do filme...





TRINITY AINDA É MEU NOME - PERPETUA A MUDANÇA




Embora este filme diga "ainda é meu nome", não é uma sequência do anterior. Podemos dizer que é uma nova versão da histórias dos dois irmãos. Para perpetuar o rotulo de "faroeste feijão", como o filme anterior, começa com uma cena em uma mesa onde se esta comendo...feijão! 


Desta vez os dois rapazes estão prometendo ao pai moribundo que sempre serão "bons bandidos, até morrerem"...É claro que os dois irão falhar em cumprir a promessas por serem gentis e generosos. Este filme é apenas uma série de situações colocadas em sequência, não há de fato uma preocupação com a história...


Se o filme anterior ainda tinha alguma coisa dos westerns italianos tradicionais, neste tudo é totalmente abandonado. A violência quando ocorre é caricata, como o bandido que Bambino soca na cabeça e fica totalmente desnorteado e só volta ao normal quando leva outra pancada. Os personagens chegam a trocar as roupas durante o filme!!


O fato, é que a partir deste segundo filme, o cinema italiano entrou em outra fase. Produzindo inúmeros 'clones' dos filmes de 'Trinity' e como era de se esperar, alguns de qualidade duvidosa. 


FALSA FRANQUIA 


Como aconteceu com outras produções italianas, por exemplo: "Django"; "Sartana"; "Sabata"; etc.. Os espertalhões das distribuidoras começaram a capitalizar com o sucesso destes dois filmes,  QUE SÃO OS ÚNICOS dos irmãos Trinity. Para isto criaram uma falsa franquia de filmes 'Trinity'...


Bud Spencer e Terence Hill haviam feito três filmes juntos antes de 'Trinity' (por causa deles é que foram convidados). Os filmes foram renomeados, para parecerem uma série de cinema. 


Assim: "Os Quatro da Ave Maria", se tornou: "Trinity e seus companheiros". "A Colina dos Homens Maus", se tornou: "Assim começou Trinity". E "Deus Perdoa...Eu Não!", se tornou: "Deus Perdoa...Trinity não"...


Existem também: "A Vingança de Trinity"; "Os Filhos de Trinity"; "Dois irmãos de Trinity" - todos sem Hill ou Spencer. E existem também todos aqueles que tem os dois atores e que levaram 'Trinity' à força no titulo e se passam em diferentes lugares do mundo...


(OBS.: NENHUM dos filmes citados neste subtítulo tem alguma ligação com os dois filmes da postagem)


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