MEMÓRIA EM QUADRINHOS | Trilogia Original do MORCEGO HUMANO
Não é incomum que um fã de determinado herói sonhe um dia em ser igual a ele. No entanto, nem sempre esse desejo pode ocorrer como se espera. A história de Kirk Langstrom, o Morcego-Humano, um dos mais trágicos “vilões” do Batman, ilustra bem isso.
Em sua primeira aparição, em Detective Comics no 400, na história O Desafio do Morcego Humano, de 1970, escrita por Frank Robins e desenhada por Neal Adams e Dick Giordano, Kirk Langstrom é um cientista do Museu de História Natural de Gotham City. Ele tem um segredo: está desenvolvendo um soro constituído à base de glândulas de morcego. Seu objetivo? Também se tornar um combatente do crime com o totem do morcego, a exemplo de seu herói, o Batman, mas com mais proximidade aos quirópteros. Vê-se que Langstrom não é mesmo um cara muito normal, uma vez que gosta de andar com uma capa à la Conde Drácula. Enquanto isso, uma quadrilha está dando muito trabalho para o Cavaleiro das Trevas, graças a óculos especiais que permitem enxergar no escuro.
Langstrom ingere o soro e já começa a sentir os efeitos. Seus ouvidos passam a escutar antes sons inaudíveis que o atormentam, e a luz forte passa a incomodá-lo. Com a ajuda de óculos especiais, ele passa a suportar a claridade e descobre que desenvolveu um radar ultrassônico, como os dos morcegos. Porém, a empolgação dá lugar ao desespero quando Langstrom percebe que sofreu uma mutação e está se transformando em um morcego humano.
Apesar de desesperado, Langstrom também está faminto, e corre para a cantina do museu, ao mesmo tempo em que a quadrilha do escuro está invadindo o local, atrás de joias valiosas e raras. Mal sabem eles que Batman também está em seu encalço e que dessa vez tem o auxílio de fones especiais que permitem escutar os batimentos cardíacos dos bandidos, muito semelhante a um certo Homem sem Medo da Marvel. Logo Langstrom também parte para a briga e ajuda o Cavaleiro das Trevas, ele até mesmo diz que esse era “seu sonho”. No entanto, quando Batman joga luz em seu rosto e se surpreende com o “disfarce” de Langstrom, ele responde que “antes fosse isso” e foge. Batman pergunta-se se conheceu um novo aliado ou um inimigo.
Na próxima história, Homem ou Morcego?, publicada em Detective Comics no 402, também escrita por Robins e ilustrada por Adams e Giordano, Langstrom está à espreita de ladrões de produtos farmacêuticos, pois um desses itens seria vital para a cura de sua mutação. Como esperado, Batman chega na hora e começa a dar uma surra nos bandidos, Langstrom meio contrariado o ajuda, mas, após darem conta do bando, ele corre para o cofre em busca do produto que precisava. Batman tenta impedi-lo, pois ambos tinham acabado de impedir um roubo, e nem Langstrom estando disposto a “pagar” pelo produto dissuade o herói. Ele então nocauteia Batman e foge com o medicamento.
Batman quando enfim desperta resolve ir ao museu onde Langstrom trabalhava, em busca de pistas sobre ele. Lá, encontra Francine, a noiva de Langstrom desesperada; apesar de ele ser esquisitão, era amado. Francine descobriu que Langstrom mentira para ela e estava desaparecido. Batman e Francine surpreendem o cientista justamente quando ele estava preste a tomar o soro que iria curá-lo. Ele derruba o frasco e foge pela janela. O Cavaleiro das Trevas diz a Francine que pode fabricar o composto que pode curar Langstrom na Batcaverna, mas mal sabe que ele, agora totalmente transformando no Morcego Humano, está em seu encalço. Langstrom desistirá de sua humanidade e tinha a intenção de fazer da Batcaverna seu novo lar. O Morcego Humano chega ao lugar, mas é surpreendido pelo Batman. Após um confronto, ele tenta escapar, mas o herói fecha a entrada da garagem da Batcaverna, e Langstrom choca-se contra ela e fica desacordado. O Cavaleiro das Trevas então tenta criar um novo soro, para que Langstrom ao menos morra como humano, se for realmente morrer.
Óbvio que a DC, ao perceber o ótimo personagem que o Morcego Humano era, não deu por encerrada a tragédia de Langstrom. Ele voltou a se transformar na criatura e a enfrentar o Batman outras vezes. E não só isso; o status do Morcego Humano oscilou entre vilão e anti-herói. Ele chegou inclusive a ter um título próprio, escrito e desenhado por Steve Ditko, mas que só durou dois números, sendo um fracasso de vendas na época. A despeito disso, o Morcego Humano agora ocupava uma posição na mitologia do Cavaleiro das Trevas, sendo um dos poucos vilões com quem o herói se importa. Quase todo inimigo do Batman tem um elemento trágico em sua origem, mas alguns poucos têm sua empatia, caso do Morcego Humano, do Duas Caras e talvez do Sr. Frio.
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