PAPO DE CINEMA: "007 A SERVIÇO SECRETO DE SUA MAJESTADE" - UM FILME INJUSTIÇADO!
Desde o dia 08 de abril, os assinantes do canal streaming AMAZON PRIME VÍDEO tem a oportunidade de rever toda a cinessérie JAMES BOND. O canal disponibilizou quase todos os filmes sem ter de pagar a locação (aluguel). É uma chance para os assinantes revisitarem a franquia e assistirem aos filmes na sequencia e também de redescobrirem detalhes esquecidos ou não percebidos. Nossa matéria fala sobre um destes filmes que apesar de muitas qualidades, foi injustamente considerado um dos piores da era Sean Connery. E não podíamos permitir que este conceito errado perdurasse.
Em primeiro lugar devo deixar claro, que não faço parte dos fãs que acham este filme ruim. Na verdade, sinto até um certo carinho por ele, já que foi o segundo filme da franquia 007 que assisti no cinema. O primeiro foi "Só Se Vive Duas Vezes" e você pode ler uma matéria sobre clicando aqui...
Acredito que muitos fãs não gostem deste filme por causa de Sean Connery...Apesar das criticas do criador do personagem - Ian Fleming - contra Connery, depois que ele apareceu no primeiro filme do agente em 1962 (O Satânico Dr. No) para os fãs ele personificou definitivamente o personagem. Assim, da mesma forma que muitos dizem que Christopher Reeve é o Superman definitivo e não aceitam outro ator no papel, um filme sem Sean Connery gerou automaticamente antipatia em alguns...
Esta antipatia automática, fez com que muitas das qualidades do filme não fossem observadas. Isto só começou a mudar com o tempo, a medida que outros atores foram aparecendo no mesmo papel. "Mas, a interpretação de George Lazenby foi ruim!", alguns dizem. Porém, é necessário lembrar que Connery já havia anunciado sua saída do papel no filme anterior a "A Serviço Secreto de Sua Majestade". O ator alegava que não queria ficar marcado pelo papel (tarde demais, companheiro!) e que o personagem era superficial demais...
Acontece que este cansaço já podia ser notado na interpretação do ator, isto pode ser verificado especialmente em "Os Diamantes São Eternos" (filme posterior). George Lazenby não possuía experiência em filmes, ele foi escolhido ao ser visto em uma propaganda de TV!! Ao ser convidado para o papel, entrou em um curso de atuação para melhorar sua performance e não faz feio no filme!! Aliás, segue bem de perto o padrão Connery, colocando um pouco do que seria seu estilo...
Vale destacar que não aceitar fazer este filme foi um erro da parte de Connery. O diretor escolhido, Peter Hunt, desde o inicio dizia que queria fazer um filme com 'sua marca', diferente dos 5 filmes feitos anteriormente. Os produtores também decidiram se concentrar mais nos roteiros, deixando de lado as 'bugigangas' de ficção cientificas dos filmes anteriores.
O resultado é um filme com um James Bond humanizado! O filme era sobre James Bond e não sobre o agente 007. O diretor consegue equilibrar o romance, a aventura, o humor. Bond mostra um pouco mais de si, não era isto que Connery reclamava? A falta de profundidade (mesma reclamação de Pierce Brosnan)? ESTE seria o filme para que se retirasse e não o fraquíssimo "Diamantes São Eternos" produzido a seguir!
Até mesmo a 'Bond Girl' da vez Condessa Tracy di Vicenzo, interpretada por Diana Rigg (de forma cativante), tem mais profundidade do que todas as anteriores e boa parte das posteriores!
Aqueles que gostam de referências nos filmes, podem se deleitar com "A Serviço Secreto". Já nos letreiros inicias (que são sempre um espetáculo à parte) temos uma retrospectiva dos filmes anteriores. Este artificio foi usado mais tarde no filme "Spectre" estrelado por Daniel Craig. Mas, não para por ai...Quando em um rompante Bond 'pede as contas', vai até seu escritório 'esvaziar as gavetas' e em uma delas ele retira diversos 'suvenires' que mais uma vez remete aos filmes anteriores. Antes de chegar ao escritório o faxineiro esta assoviando o tema de "Goldfinger"...Claro que a ideia era que o publico lembrasse que o ator era diferente, mas o personagem era o mesmo...
Claro que a parte de ação não seria esquecida e mais uma vez temos algo diferente dos demais filmes, mas no bom sentido. Bond não usa nenhuma das parafernálias costumeiras, em certa situação ele tem até que improvisar para escapar de seu quarto, assim descobrimos que o agente pode se sair muito bem sem os 'equipamentos especiais'. (Isto foi bom, porque o ator que faz "Q" se recusava a contracenar com Lazenby - não gostou dele. Eles aparecem juntos em apenas uma cena!)
O filme também traz uma fantástica perseguição de esquis montanha abaixo, que só seria superada em "O Espião Que Me Amava" estrelado por Roger Moore. Também temos um Blofeld atípico, pois neste filme ele participa ativamente da ação, chegando inclusive a sair no 'mano a mano' com Bond na parte final! E tudo isto 'temperado' com mais uma fantástica trilha sonora de John Barry...E menção honrosa para Lois Armstrong que interpreta a musica "We Have All the Time in The World" composta por J. Barry....
E temos também o final. Na minha opinião o melhor final de todos os filmes da franquia (que inspirou o final de "Sem Tempo Para Morrer"). Pois mais uma vez temos a oportunidade de vermos Bond sentindo alguma coisa. Vejam bem, gosto do personagem desde o primeiro filme que assisti, mas temos de admitir que de fato ele era apenas uma maquina de matar, aparentemente sem sentimentos, o que fazia o personagem não ter profundidade. Vi pessoas emocionadas no final, eu mesmo fiquei. E isto é sem dúvida algo muito diferente em um filme de Bond...
Mas, claro tem suas falhas. Por exemplo, Bond se infiltra no esconderijo de Blofeld e não é reconhecido por ele? Como se no filme anterior eles estiveram cara a cara? No livro, Bond faz uma cirurgia plástica para ficar diferente, mas no filme nada é mencionado...
Por que Lazenby fez apenas um filme? Bem, há versões divergentes: uma diz que seu empresário lhe disse que a franquia estava liquidada e o personagem obsoleto, que ele devia tentar coisas diferentes. Outra versão diz que Lazenby teve dificuldades durante as filmagens, que não recebeu nenhum treinamento, que o diretor não falava com ele diretamente, que havia conflitos de personalidade com Diana Riggs que já era uma estrela consagrada. Ainda outra versão diz que Lazenby não gostou da falta das 'bugigangas'. Qual é verdadeira? Jamais saberemos, o fato é que Lazenby anunciou durante as filmagens que não faria nenhum outro filme...
A desistência de Lazenby acabou por fazer com que Hunt não dirigisse o filme seguinte, "Os Diamantes São Eternos", e também que as histórias fossem mudadas. Os planos de Hunt era terminar "A Serviço Secreto de Sua Majestade" com Bond e Tracy saindo após o casamento. Na entrada do filme seguinte (Os Diamantes), haveria o assassinato de Tracy e a busca de vingança por parte de Bond...(prefiro o final tradicional)...
Se Lazenby tivesse permanecido, ele faria 5 filmes: "A Serviço Secreto de Sua Majestade"; "Os Diamantes São Eternos"; "Viva e Deixe Morrer"; "O Homem Com a Pistola de Ouro"; "O Espião que Me Amava". Caso os filmes fossem produzidos na ordem atual...Imaginem o quão diferente teria sido a trajetória da franquia. Pois o diretor do filme seguinte aumentou a dose de humor do roteiro e Roger Moore (embora não desgoste totalmente dele) transformou a franquia em uma espécie de 'Batman de 66'...
Roger Moore era a escolha original para "O Homem da Pistola de Ouro" (que era o filme a ser produzido), mas havia assinado para a série de TV: "O Santo" e não pode aceitar o convite, os planos então se voltaram para "A Serviço Secreto". Seu estilo de interpretação é o de 'canastra irônico', o dia em que vi James Bond passar de smoking, pendurado em um cipó, com o grito do Tarzan ao fundo, concluí que a franquia havia acabado de morrer...o filme era "Octopussy"...
George Lazenby só voltou a aparecer em 1977, em um filme chamado "The Kentucky Fried Movie" (seja o que for). Depois em 1998, na série de TV "The Pretender" (temporada 3) e depois fez algumas aparições aqui e ali...Sem dúvida perdeu uma grande chance! ,
Mas, mesmo com falhas, amadorismo do protagonista, "007 A Serviço Secreto de Sua Majestade", não é um filme ruim apenas mal compreendido e muito injustiçado...
Você pode comprovar, basta clicar aqui e assistir...
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