Cinema em Foco: FOME DE VIVER (The Hunger) 1983

Para você que gosta de filmes totalmente inesperados sobre vampiros, FOME DE VIVER (The Hunger)  talvez seja sua melhor oportunidade. De bônus temos a marcante presença de David Bowie em uma de suas obras mais notórias e estranhas. Vale dizer que este filme foi desprezado pela crítica da época, o público deu de ombros ao render menos de US$ 6 milhões em bilheteria (EUA) e os fãs do livro desprezaram as inúmeras mudanças feitas no material original, mas com o tempo passou a ser cultuado, tornou-se um clássico dentro do gênero e adorado pelos góticos. 

Bem, entre as várias questões que podemos abordar sobre este interessante filme, é bom começar mencionando que é (como mencionei acima) uma adaptação vagamente baseada na obra homônima do autor Whitley Strieberdo. Particularmente, é uma leitura que recomendo, mas que talvez não agrade a todos. É bastante denso e um pouco triste, além de ser bem diferente dos padrões vampirescos da atualidade. 

Quanto ao filme, este foi a primeira produção mainstream do diretor Tony Scott, que explodiu em 1986 com Top Gun – Ases Indomáveis três anos depois de Fome de Viver. Porém, Tony Scott, após o fracasso de bilheteria de Fome de Viver, acabou perdendo a cadeira de direção de um trabalho para John Carpenter (a produção em questão é Starman – O Homem das Estrelas, de 1984).

SINOPSE: Miriam Blaylock (Catherine Deneuve) é uma vampira que consegue se manter "viva" e bela através dos séculos com o sangue dos seus amantes. Em retribuição os jovens e as moças que se envolvem com ela não envelhecem, até Miriam ter tirado bastante sangue deles. Infelizmente seu atual parceiro, John (David Bowie), está tendo um envelhecimento extremamente rápido e a expectativa de vida é de apenas 24 horas. Desesperado, ele procura a ajuda da médica Sarah Roberts (Susan Sarandon), que é especialista em envelhecimento prematuro. Inicialmente ela não crê na história de John, mas pede para esperá-la. Ao voltar, 2 horas depois, vê que ele envelheceu décadas naquele curto espaço de tempo. Ela pensa em tentar fazer alguma coisa, mas John deixa o local bem irritado e frustrado, pois sabe que para ele seu tempo acabou. Sem ter a menor noção do que está acontecendo, Sarah vai até a casa dele e acaba conhecendo Miriam. Após uma conversa e uma bebida elas acabam indo para cama e logo Sarah descobre que sua vida tomou um rumo totalmente inesperado.

Fome de Viver (The Hunger)
Ano:1983 • País:UK, EUA
Direção:Tony Scott
Roteiro:Ivan Davis, Michael Thomas
Produção:Richard Shepherd

Elenco:Catherine Deneuve, David Bowie, Susan Sarandon, Cliff De Young, Beth Ehlers, Dan Hedaya, Rufus Collins, Suzanne Bertish, James Aubrey


Pois bem, David Bowie, Susan Sarandon e Catherine Deneuve num mesmo filme já seria motivo mais que suficiente para o sucesso, mas a verdade que a coisa não saiu do jeito que se imaginava na época. Pelo menos, não sob a ótica comercial. Afinal, não se trata de uma obra "fast food", e sim, de um prato "master cheff" que deve ser degustado com delicadeza e atenção. Confesso que, apesar de ser antigo, acredito que muita gente ainda não viu, ou que talvez já não lembre de todos os detalhes, então vou evitar (espero conseguir!) dar spoilers da trama. 

Ainda sobre o elenco é importante destacarmos a beleza, elegância e presença marcante da francesa Catherine Deneuve que nos convence fácil no papel de uma exótica vampira imortal; Susan Sarandon, na época indicada ao Oscar de Melhor Atriz por Atlantic City (1980), atravessa com absurda competência o limiar entre a ciência e o sobrenatural, a transformação da personagem (física e mentalmente) é sutil espetáculo à parte e o mestre camaleônico David Bowie fecha este triângulo com maestria: extremamente carismático e com traços andrógenos, transforma-se em idoso graças ao impressionante e revolucionário trabalho do maquiador Dick Smith.

A trilha sonora mistura punk, rock eletrônico e música clássica, enquanto o figurino aristocrata faz a conexão entre o antigo e o contemporâneo com grande competência.

Quanto a trama, Fome de Viver é uma metáfora contundente ao mundo de sua época. Resumidamente, o filme conta-nos a história de uma paixão intempestiva que, ao se entregar sem o devido cuidado, tem potencial de machucar muito mais que sentimentos e pode trazer consequências desastrosas para o resto da vida de seus integrantes. Bem, se você ainda não se ligou é porque não viveu sua juventude nos anos 80. O aspecto vampírico do filme é uma metáfora a síndrome da AIDS, que naquele período era vista como uma epidemia – note que a palavra “vampiro” em momento algum é citada no filme e que a condição pesquisada pelos cientistas é tratada como uma "doença transmitida pelo sangue".



Apesar de estarmos numa trama vapírica, esqueça as mordidas, o adormecer diurno em caixões, queimaduras na pele ao contato com o sol. Não espere ver presas afiadas, ou ouvir uma trilha sonora macabra. Nada de ambientes úmidos, pedras cobertas por limo, cheiro de terra ou capas e morcegos. Esqueça as roupas fora de moda e comportamentos que despertariam a atenção dos mais curiosos. Esqueça Nosferatu, Drácula e até Carmilla - A Vampira de Karnstein. O distanciamento das demais obras do gênero é tamanho que a palavra vampiro, ou qualquer outro sinônimo, sequer é utilizado no filme. Surpreendentemente, há as cenas sangrentas e violentas o bastante para chocar muita gente na época, e vale lembrar que  para alguns este é um um dos filmes mais sexys de todos os tempos.

Mas, obviamente, nem tudo são flores. É inegável que a narrativa é difícil de acompanhar; existem elementos paralelos na trama que não tem qualquer desdobramento e há momentos que você esquece que está vendo um filme de vampiro e pensa que é um videoclipe dos anos 80.  

Em 1997 foi ao ar uma série TV supostamente inspirada no longa, denominada:"The Hunger", porém sem qualquer ligação com o livro ou com a obra de 1983. Com apenas duas temporadas e 44 episódios, a série teve Tony Scott como diretor do episódio piloto e David Bowie como o apresentador da segunda temporada. O Enredo não seguia uma linha geral de desenvolvimento, cada episódios conta as histórias de vários vampiros que não tem nada em comum. Basicamnte, são vários autores contando histórias de vampiros.


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